Homero
Ward da Rosa, participante do Fórum.
De 9 a 11 do corrente realizou-se em Santos
(SP), o 9º Fórum Espírita do
Livre-Pensar da Baixada Santista. O tema central, "Uma Reflexão sobre
a Morte e o Morrer", revelou-se uma excelente escolha, oportunizando
diversas abordagens e reflexões, sobre a importância da vida como oportunidade
evolutiva para o espírito imortal. As palestras aconteceram em três painéis,
reunindo cada um dois apresentadores em cada uma das três noites.
1ª
Noite:
Ricardo Nunes,Homero, Paulo Muniz, Regina e Jailson |
Público presente no CEB A. Prado |
Na primeira noite, as palestras aconteceram
na sede do Centro Espírita Beneficente Ângelo Prado. Sob a coordenação de seu
presidente, Jailson Lima de Mendonça.
O painel resumiu, respectivamente, a visão filosófica e a visão psicológica
sobre a morte e o morrer. O primeiro painelista foi Ricardo de Morais Nunes, bacharel em direito e licenciado em
filosofia. Ricardo cita o “Livro
Tibetano do Viver e do Morrer”, de autoria de Sogyal Rinpoché, onde se encontra
a estória de Krisha Gotami, que, desesperada, busca alguém que lhe possa
restituir a vida do filho morto que carrega nos braços. Ignorada por uns,
considerada louca por outros, afinal encontra um homem sábio que a encaminha
até Buda, a quem, afinal, implora pela ressurreição do filho. Depois de ouvir
com serena compaixão a mãe desconsolada, Buda, suavemente, lhe pede que desça à
cidade e lhe traga “um grão de mostarda vindo de uma casa onde jamais tenha
havido morte...” A busca, infrutífera, desperta na mãe o entendimento de que
nada no mundo é permanente, exceto a própria impermanência, “a característica flutuante e mortal de toda coisa”. Ricardo
acrescenta lições de vários outros filósofos, desde Sócrates e Platão, para os
quais a morte devia ser vista com naturalidade, pois o verdadeiro sábio almeja
conhecer a sua essência e a morte do corpo liberta o espírito nessa direção.
Para o filósofo contemporâneo, Luc Ferry, a morte é temida porque pertence à
ordem do “nunca mais”. Contudo o pensador francês entende que enfrentamos
muitas “mortes”, muitas despedidas. Com sabedoria, precisamos aprender a lidar
com as múltiplas formas do irreversível.
Em sequência, o psicólogo Paulo Guilherme Muniz, afirma que
negamos a morte o tempo todo, embora o falecimento biológico seja um processo
natural e inevitável. A psicologia não
aceita a vida após a morte. Contudo nos ensina que é preciso renascer em vários
momentos durante a nossa existência. Alguns importantes teóricos da psicologia
encontram evidências de que a mente continua a existir, sobrevivendo à morte
biológica, o que abre possibilidade de encontro com as ideias espiritualistas
de imortalidade da alma e evolução espiritual contínua.
2ª
Noite:
Homero, Jailson e Roberto Rufo e Silva |
Público presente na F. Espírita |
No dia seguinte, o encontro ocorreu na sede
da Fraternidade Espírita. O advogado e contador Jailson Lima de Mendonça, que coordenou a Comissão Organizadora do
9º Fórum, abordou questões jurídicas em torno do tema central, enquanto Roberto Luiz Rufo e Silva referiu-se a
questões sociais relativas a morte e o morrer. Jailson destacou a perplexidade
e revolta da sociedade diante do crescimento da violência. Estimativas
internacionais apontam para 500 mil mortes por assassinatos no mundo, em 2012.
Tal realidade reacende o debate em torno do controle da violência mediante o
uso de medidas extremas, como a pena de morte. Mas será a pena capital
eficaz? Não para a doutrina espírita,
que repudia a pena de morte. Jailson
lembra experiências positivas como a liderada pela juíza e espírita, Jacira Jacinto da Silva, relatada em
seu livro “Criminalidade: Educar ou Punir?”. Tudo indica que a melhor solução
para reduzir e controlar a violência se encontra na melhoria das condições
sociais e na conscientização da educação para a paz.
A seguir, Roberto Rufo, atual Vice-Presidente
do Instituto Cultural Kardecista de Santos, analisou aspectos sociais que
envolvem a reflexão sobre a morte e o morrer em nossos dias. Rufo atribui o
crescimento da violência à impunidade e à corrupção. Pessoas que atuam no crime
sabem agir de modo a proteger os seus interesses. São quadrilhas muito bem
organizadas e estruturadas, que manipulam muito dinheiro. O crime precisa ser
reprimido com a inteligência policial. Investigar, ”seguindo o rastro do
dinheiro” é um dos mais eficientes recursos para localizar os crimes e prender
os chefes criminosos. Retirar os recursos financeiros que alimentam as ações
criminosas é fundamental. Combater sistematicamente a corrupção e a lavagem de
dinheiro. Apoiou-se na obra “Direito e
Justiça: Um Olhar Espírita”, de autoria do jurista e espírita Milton Rubens Medran Moreira, para
sustentar que o Espiritismo é uma doutrina humanista que discorda da aplicação
da pena de morte que se revela ineficaz para combater a criminalidade, e cita o
autor: “A injustiça, legal ou social, é importante fator criminógeno. Onde há
guarida legal e o efetivo respeito aos direitos fundamentais de todos, onde há
justiça social, onde não há fome, nem corrupção, a violência não grassa.”
3ª
Noite:
Homero, Jailson, Leopoldo Daré, Regina Pedron e Sandra C dos Reis |
O último painel do 9º Fórum aconteceu na sede
do CEAK – Centro Espírita Allan Kardec, http://ceaksantos.blogspot.com.br/
coordenado pela pedagoga e atual presidente da instituição, Regina Celli Pedron. Foi integrado
pelos médicos Leopoldo (Leo) Rodrigues
Daré e Sandra Chioro dos Reis,
que abordaram questões éticas e médicas ligadas à morte e o morrer. Sobre o momento da partida da alma do corpo,
Leo expôs o entendimento das culturas egípcia, helênica e judaico-cristã. Diferenciou aspectos técnicos e éticos da
eutanásia, morte assistida ou suicídio assistido, distanásia, ortotanásia. Referiu-se aos avanços da
ciência e tecnologia médicas que atualmente dispõem de muitos recursos, como os
transplantes de órgãos, terapias gênicas, os fármacos, etc., que ampliaram a
expectativa de vida. Destacou que a morte biológica é um processo natural que
tem início desde o nascimento, ou antes. A desencarnação natural, segundo o
Espiritismo, deve-se a perda de vitalidade do corpo, é indolor, e permite que o
espírito desprenda-se gradualmente, o que ocorre em minutos ou meses; o corpo
pode viver sem alma e, conforme a questão 356 de O Livro dos Espíritos, pode haver um nascimento biológico sem que um
Espírito esteja ligado ao corpo. O
Espírito perde a consciência de homem com a morte do cérebro. A perturbação
espírita da morte pode demorar poucas horas ou muitos anos.
Público presente no CEAK |
A seguir Sandra Lia Chioro dos Reis,
psiquiatra, abordou a inquietação psíquica que o medo da morte desperta em
muitas pessoas. É um aspecto da nossa cultura de negação da morte. É necessária
uma conscientização de que morrer é um processo natural, que ocorre para todas
as pessoas. Mais importante do que a angústia do morrer deve ser o esforço e a
alegria de viver, e viver bem, aproveitar todas as oportunidades para ser feliz
e estimular a outros essa disposição pela vida, até mesmo pela consciência da
morte inevitável. Citou o filósofo Sócrates afirmando devemos cuidar mais da
alma e não temer a morte do corpo. A filosofia no passado já foi considerada um
aprendizado para a morte. O termo grego euthanasía significava “morte sem
sofrimento”, a boa morte. Aquele que sabe morrer aprendeu a viver, e assim a
vida e a morte se iluminam reciprocamente.
Todos os expositores despertaram vivo
interesse do público nos três encontros. Houve muitos questionamentos e debates
esclarecedores sobre os assuntos tratados.
Visita
ao Lar Veneranda Creche:
https://www.facebook.com/creche.larveneranda
Homero ladeado por Mauricy e Haira Ribeiro, administradora executiva do Lar |
Fundada por Jaci Régis em 1954, a Comunidade
Assistencial Espírita Lar Veneranda, é mantenedora do Lar Veneranda Creche.
Abriga hoje 135 crianças de até 7 anos de idade. Atende ainda cerca de 80 mães,
que frequentam curso de alfabetização de adultos, e diversos outros cursos
profissionalizantes que objetivam propiciar-lhes melhoria de renda e condições
de vida. Jaci presidiu a instituição durante 32 anos. A atual presidente é sua
filha, pedagoga Valéria Régis e Silva,
sendo Vice-Presidente o dinâmico companheiro Mauricy Antonio da Silva, que nos convidou e acompanhou durante a
visitação, juntamente com Haira Ribeiro
e a equipe de colaboradoras Lar, todas muito simpáticas e afetuosas. A Creche
está instalada em prédio próprio composto do térreo e mais três andares, com
uma área construída de 1377 m².
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