20 novembro 2024

ESPIRITISMO E EDUCAÇÃO SOCIAL (publicado no Jornal Abertura de agosto/2019) Jacira Jacinto da Silva e Mauro de Mesquita Spínola

 

             ESPIRITISMO E EDUCAÇÃO SOCIAL (publicado no Jornal Abertura de agosto/2019)

                                                                Mauro de Mesquita Spínola        Jacira Jacinto da Silva

 “Um sorriso quando precisaria ser sério; uma fraqueza quando seria preciso ser firme; a severidade quando seria preciso a doçura; uma palavra sem pensar, um nada, enfim, basta às vezes para produzir uma impressão indelével e para fazer germinar um vício. Que se passará então quando essas impressões forem ressentidas desde o berço, e frequentemente durante toda a infância? Nesse aspecto, o sistema de punições é uma das partes mais importantes a serem consideradas na educação; pois elas são comumente a fonte da maior parte de defeitos e vícios.” (Hippolyte Léon Denizard Rivail, Textos Pedagógicos. 1ª Ed. São Paulo. Comenius, 1998, p. 19).

A necessidade e a premência da educação são bandeiras unânimes na sociedade moderna, reconhecida como paradigma tanto de progresso individual quanto de efetiva democracia e dignidade social. A partir do século XIX, consolidou-se com mais força a defesa iluminista da educação universal, laica e livre, como um direito de todos e ao mesmo tempo um instrumento imprescindível ao desenvolvimento econômico e social.

Hyppolite Rivail, o educador, e Allan Kardec, o fundador do espiritismo, as duas faces de um mesmo pensador, tiveram na educação a sua principal linha de pensamento. Para Kardec, a educação resumia todo o processo de evolução do espírito encarnado. Na sua mais explícita abordagem sobre o tema, mostra o valor da educação moral:

“Há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. (...) Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis.”   (Allan Kardec, O Livros dos Espíritos, comentário à questão 685).

É certo que o acesso à educação progride em todo o mundo, embora em ritmo muito inferior ao que idealizaram Kardec e outros grandes pensadores de seu século e mais recentes. Os problemas são ainda imensos. Temos no Brasil, em particular, uma já enorme e ainda crescente desigualdade entre o ensino em escolas públicas e privadas; a segurança nas escolas é precária, a qualificação dos professores é deficiente, o reconhecimento dos profissionais da educação é baixo e eivado de preconceitos.

É ainda mais notável a inércia observada no desenvolvimento da educação moral e social. Em regra, a escola se dedica estritamente a conteúdo e não à formação de valores e habilidades. A escola prepara para o vestibular e para a competição capitalista.

A construção de uma sociedade livre e igualitária esbarra tanto na ignorância imperante, quanto no egoísmo e no autoritarismo dos grupos que secularmente dominam a economia, o estado e os governos, sempre relutantes ao desenvolvimento humano e à educação libertadora.

O espiritismo contribui com a agenda para a educação social em vários aspectos, tanto metodológicos quanto conceituais.

Metodologicamente, a visão espírita da imortalidade reforça a estratégia educacional centrada no ser humano (em especial o respeito à sua individualidade e ao desenvolvimento de suas habilidades naturais) e na sua existência em sociedade.

Do ponto de vista conceitual, o espiritismo oferece bases sólidas para a educação inclusiva, solidária, voltada para o bem comum, instrumentos essenciais para as pessoas, as famílias e as escolas construírem um mundo melhor. O estudo da ética e da moral que se encontra na terceira parte de O livro dos espíritos pode ser lido como uma agenda de educação ética, moral e social. São muitos os elementos pedagógicos ali presentes, podendo-se destacar, a título de exemplo: a liberdade de pensamento e ação para todos (Lei de liberdade), a superação do egoísmo e do orgulho (Lei do progresso), a igualdade de direitos entre homem e mulher e a redução da desigualdade das condições sociais (Lei de igualdade), o respeito a todos os seres humanos, a vida em família e a vida social como necessidades do espírito (Lei de sociedade), entre outros tópicos, todos tratados com objetividade e modernidade por Kardec em sua principal obra.

A agenda para educação social é urgente. Menos divisão, menos egoísmo, mais solidariedade e respeito, são essenciais à nossa sobrevivência. Nesse contexto, a presença das teses espíritas na construção de novos modelos educacionais é essencial.

     

Jacira Jacinto da Silva - Advogada empresarial, especialista em segurança de dados aposentada como juíza de direito. Presidente da CEPA por dois mandatos Presidente da CEPABrasil por dois mandatos, Membro do CPDoc, Membro do C.E.E. José Herculano Pires, SP, Diretora Presidente e Instituidora da fundação Porta Aberta.     

Mauro de Mesquita Spínola: Engenheiro, professor e pesquisador da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Consultor em Tecnologia da Informação e Proteção de Dados (vanzolini.com.br). Foi Diretor Administrativo da CEPA por dois mandatos, atual diretor de Pesquisa e Produção de conteúdo da CEPA. Membro do CPDoc, Diretor do C.E.E. José Herculano Pires (São Paulo. Presidente do Conselho Curador e Instituidor da fundação Porta Aberta.