Não sei onde vai parar essa
polarização político-ideológica que tomou conta do Brasil.
Sei, sim, que, no campo das
ideias políticas e sociais, há duas forças que, para todo sempre, hão de se
digladiar.
Elas são tese e antítese que
alimentam o fluir do processo político. Estão presentes na política porque,
igualmente, movem o processo individual de crescimento do espírito humano.
Uma busca preservar os valores
conquistados. A outra estimula mudanças mediante a superação do que ontem era
um valor e hoje pode ser descartado porque incompatível com os novos tempos.
Allan Kardec expressou esses dois
movimentos mediante o que denominou Lei de Conservação e Lei de Destruição.
DIALÉTICA
Entretanto, é justamente desse
embate dialético que deve resultar uma síntese, capaz de harmonizar as duas
tendências humanas e sociais. Novamente, Kardec! Ele compreendeu as forças
componentes desse processo e nominou como Lei do Progresso o estágio capaz de
harmonizar e sintetizar os movimentos conservadores e destruidores.
Democracia, tolerância,
fraternidade, diálogo são, contudo, elementos que o humanismo introduziu para
tornar suportável e eficiente essa luta natural entre a tese e a antítese,
abrindo espaço à síntese.
Não é, pois, uma luta entre o bem
e o mal. Contudo, o que desvirtuou nosso processo político foi, justamente, a
ideia de que quem está de um dos dois lados está com o bem, enquanto o mal
caracteriza definitiva e irremediavelmente os do lado oposto.
IDEOLOGIAS
Maus políticos, interesseiros e
populistas, valendo-se, mesmo da religião – e esta, sim, calca-se numa base
doutrinária fundamentalmente dualista e maniqueísta – é que conferiram às
ideologias esses pretensos rótulos de boas e más.
Ideologias são visões de mundo
que diferentes grupos sociais têm, buscando proteger seus interesses coletivos.
Em princípio, não são boas ou más. São expressas por meio de ideias que formam
a base doutrinária de partidos políticos. Partidos são partes de um todo.
Protegem interesses coletivos que, necessariamente, não contemplam os anseios
de uma nação inteira.
Evidentemente, há ideologias mais
generosas que outras e há agrupamentos políticos que oferecem instrumentos mais
voltados à igualdade de direito e à justiça social. A eles se tem denominado de
progressistas, em contraposição ao conservadorismo de outros. Isso, no entanto,
não lhes garante a supremacia e a posse exclusiva do bem e da verdade. Até
porque nenhum agrupamento humano, por melhor que sejam as ideias por ele
teoricamente defendidas, está infenso, na prática, à manipulação de pessoas
inescrupulosas, interesseiras, hipócritas e aproveitadoras.
EM SÍNTESE
Por isso tudo, e em meio, mesmo,
aos extremismos dessa polarização a que fomos levados pelo discurso de ódio de
maus homens públicos, tenho buscado não medir ninguém exclusivamente pela régua
política.
Rejeito a ideia de que quem está
ou esteve, em determinado momento, ao lado do político A ou B, seja,
necessariamente, igual a ele. Mesmo que eu jamais venha a apoiar quem abrace
ideias com as quais, por princípios filosóficos, eu nunca concordaria, procuro
não julgar o outro exclusivamente por suas preferências eleitorais.
Posições políticas sempre são
precárias. Meras ferramentas na construção do progresso. Atendem interesses
coletivos ou individuais válidos para aquele momento histórico. Não convém
tomar líderes políticos como mitos, nem ideologias como salvadoras do mundo.
Cidadão que assim procede pode estar tendo uma visão muito distorcida da
exequibilidade das próprias ideias que defende. Ou, pragmático, esteja vendo
seu candidato apenas como o meio capaz de derrubar o ídolo do outro, a seu
juízo, pior que o dele.
A vida e o relacionamento plural
me ensinaram que quem está do outro lado pode ser um sonhador, um ingênuo, um
ludibriado, mas, nem por isso, um mal-intencionado. E frequentemente é nosso
próprio pai, um irmão, um amigo querido. É um bom chefe de família,
profissional responsável, bom colega, vizinho solícito, bem diferente do
candidato que cultua ou do agrupamento político no qual detectamos tanto atraso
e, às vezes, muita hipocrisia.