quarta-feira, 20 de setembro de 2023

CAUSAS SOCIAIS DAS AFLIÇÕES

 Elias Inácio de Moraes

Formou-se no meio espírita a crença de que todas as aflições que atingem uma pessoa são causadas por ela própria, nesta, ou em vidas passadas. Se ela a isso não deu causa nesta vida então é porque a causa se encontra em outras vidas. Isso justificaria expressões como “o acaso não existe”, ou “tudo o que acontece tem a sua razão de ser”. Nos casos de pobreza, diz-se que “se nasceu pobre é porque fez por merecer em outra vida” ou que “a morte, a doença e a fome não erram de endereço”.

Será isso mesmo? Por que, então, Kardec e os espíritos consideraram o planeta Terra como um “mundo de provas e expiações” onde ainda existem o egoísmo, a negligência e o crime? Se tudo são expiações, onde então as “provas”? Não estariam os fatores sociais entre as “causas atuais das aflições”?

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Aniversário do CPDoc

Prezados amigos e amigas!

No dia 23/09/23, na sede do CEAK-Santos, faremos o evento de comemoração do aniversário de 35 anos do CPDoc - Centro de Pesquisa e Documentação Espírita. A recepção com coffee break se iniciará às 09h30min e a Abertura propriamente dita, às 10h, seguindo-se o pronunciamento de Ademar Arthur Chioro dos Reis, um dos fundadores do CPDoc. Após o almoço outras atividades se desenvolverão, até o encerramento, às 18h (Veja o cartaz ao lado). Será uma verdadeira festa do livre-pensar espírita, um encontro de amigos! Você é nosso convidado! Participe!


quarta-feira, 6 de setembro de 2023

O CERNE DA QUESTÃO DOS SOFRIMENTOS FUTUROS

Wilson Garcia

Com o advento da concepção da autonomia moral e livre-arbítrio dos indivíduos, a questão das dores e provas futuras encontra uma nova noção, de acordo com o que se convencionou chamar justiça divina.

O pior das discussões sobre os fundamentos do espiritismo se dá quando nos afastamos do ponto central ou, tão prejudicial quanto, sequer alcançamos esse ponto, ou seja, permanecemos na periferia dos fatos, casos e acontecimentos justificadores. As discussões costumam, normalmente e para mal dos pecados, se desviarem do foco e alcançar um estágio tal de distanciamento que fica impossível um retorno. Em grande parte das vezes, o acirramento dos ânimos se faz inevitável. 

A ideia da autonomia moral é alentadora. Antes se dizia: “quem o alheio veste na praça o despe”. Essa palavra é expressiva, mas parcial, pois não abrange um percurso mínimo de explicação de um fato. Bem compreendida, porém, fará sentido e então não será repelida. 

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

COLEÇÃO LIVRE-PENSAR IMPRESSA

Caro(a) amigo(a), 

Estamos iniciando a pré-venda da COLEÇÃO LIVRE-PENSAR: ESPIRITISMO PARA O SÉCULO XXI, promovida pela CEPA e CPDoc. Disponibilizaremos para venda a coleção impressa em sua versão em língua portuguesa. Para adquirir, clique no link do site www.cpdocespirita.com.br e no botão Adquirir Agora. Estamos com um preço promocional até dia 22/09/2023, véspera da comemoração Aniversário de 35 anos do CPDoc. Não perca tempo!

Garanta a sua coleção!

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

A vantagem de viver muito

Por Milton Rubens Medran Moreira

Uma das vantagens de viver muito é poder constatar como, em duas ou três gerações, os costumes se transformam e, mesmo que por aparentes linhas tortas, o progresso se dá.
Chegando quase aos 83 anos desta encarnação, já nem falo no progresso tecnológico que me permitiu, por exemplo, ver o telefone como algo extraordinário que só os muito ricos possuíam. Ou o telegrama, que, em caso de necessidade de comunicação urgente, levava a gente ao guichê dos Correios para ditar, palavra por palavra, e mandar uma notícia a parente que residia em outra cidade.
Meu pai, um modesto funcionário público, tinha um rádio em casa, recurso tecnológico de que nem todos podiam desfrutar. A gente se reunia, no quarto dele, em torno daquele imenso “Telefunken” para ouvir o Repórter Esso, dando as notícias da guerra, recebidas das grandes agências de notícias, via teletipos, outro avanço tecnológico que só grandes empresas internacionais possuíam.

sábado, 13 de maio de 2023

SOBRE O EVANGELHO ANTIRRACISTA

 Ricardo de Morais Nunes – Presidente da CEPABrasil

Tenho acompanhado a polêmica de o Evangelho Segundo o Espiritismo – Edição antirracista publicado pelo coletivo Espíritas à Esquerda. Essa obra faz parte de uma coleção que o grupo pretende publicar analisando passagens de caráter racista nas obras de Allan Kardec. Tenho visto posicionamentos favoráveis e desfavoráveis à iniciativa. No presente artigo exporei minha opinião sobre o tema. Antes quero dizer que gosto do coletivo Espíritas à Esquerda. Trata-se de um grupo de espíritas comprometidos com o aspecto social do espiritismo em um sentido progressista. O grupo foi muito importante ao movimento espírita brasileiro com seus posicionamentos políticos na triste era Bolsonaro. Teve a capacidade de reunir os espíritas que estavam desiludidos com a onda de reacionarismo que tomou conta de grande parte do movimento espírita e, com isso, deu novo ânimo a muitos espíritas que estavam deixando de frequentar as casas espíritas por pura desilusão com aqueles que se diziam espíritas e suas lideranças.

sábado, 25 de março de 2023

17º FÓRUM ESPÍRITA DO LIVRE-PENSAR DA BAIXADA SANTISTA

REFLEXÕES SOBRE O AMOR

15/04/2023 (sábado) – presencial
Local: CEAK – Centro Espírita Allan Kardec
Rua Rio de Janeiro nº 31 - Santos
15 h
Abertura e apresentação do Coral Integrasom
Dás 15h30 às 16h30
Oficina com os participantes do fórum e
apresentação das conclusões
Dás 16h30 às 17h45
Painel – Reflexões sobre o Amor
 Ricardo de Morais Nunes: O amor a partir da filosofia e do
espiritismo
 Alexandre Cardia Machado: A delicada questão do sexo e do
amor
 Alcione Moreno: O amor nas relações humanas
Lanche e confraternização
Realização: Instituições espíritas vinculadas à CEPA na Baixada Santista
Apoio: CEPA – Associação Espírita Internacional e CEPABrasil

terça-feira, 21 de março de 2023

ESPIRITISMO, LAICIDADE, LIVRE PENSAR E AS RELAÇÕES COM A ATUALIDADE

 

Milton Medran Moreira

A religião e o laicismo

No dia 23 de setembro de 2012, quando ainda ocupava o trono da Santa Sé o pontífice recentemente desencarnado Bento XVI, publiquei no mais importante jornal de Porto Alegre, Zero Hora, o artigo “O Papa e o Laicismo”.

Comecei o texto reconhecendo: “Andou muito bem o Papa Bento XVI, em sua recente visita ao Oriente Médio, pedindo se respeite, ali, a liberdade religiosa e defendendo o laicismo por ele adjetivado como saudável”.

Como todos sabemos, o cardeal alemão Joseph Ratzinger, então no papado, sempre demonstrou posições bastante conservadoras, diferentemente daquele que o iria suceder, o Papa Francisco, que ainda hoje está no cargo e a quem, com justiça, se atribuem posições muito progressistas e, em grande parte, coincidentes com os anseios modernos do pluralismo religioso e do secularismo.

Cerca de dois anos antes, numa visita à Espanha, para uma efeméride envolvendo as tradições religiosas de Santiago de Compostela, Bento XVI fizera um histórico da tradição cultural espanholaonde se incrementaram conceitos contemporâneos de laicidade. Lamentou que o laicismo então defendido se posicionava como anticlerical e contrário ao exercício de poderes tradicionalmente reconhecidos como exercitáveis pela Igreja. Naquela visita de 2010 à Espanha, Ratizinger sustentou que “para o futuro é necessário que não haja um enfrentamento, mas um encontro entre fé e laicismo”.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

O Brasil do momento

Alexandre Cardia Machado*

As coisas estão mudando no Brasil, temos um governo de esquerda, ou melhor, para que possa governar uma aliança de centro-esquerda com as necessárias adaptações que viabilizam a governabilidade.

Já mais de uma vez escrevi, neste jornal, que ao caminharmos, nos inclinamos ora para a esquerda, ora para a direita é o viabiliza o nosso movimento bípede. Assim como o balaço humano, neste momento a política pende para a esquerda.

Mas o momento atual requer maturidade de todos os espectros ideológicos. Os novos governantes precisarão ter o máximo cuidado com o que hoje costuma-se chamar de “compliance”, este foi sem dúvida alguma o maior problema das administrações de esquerda anteriores e que levou milhões de pessoas a se associarem a Bolsonaro em 2018. Bem, as leis que regem as ações governamentais foram aprimoradas no sentido de impedir ações que levem ao desperdício dos recursos públicos.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

ESDE: A ORIGEM

Por Salomão Jacob Benchaya (*)

Conta Maurice Jones que, ao assumir a presidência da Sociedade Espírita Luz e Caridade
(SELC), em 1968, uma das primeiras decisões que tomou foi a de compor um grupo para o estudo metódico das obras de Allan Kardec. Selava-se, aí, a vocação, na época pioneira, da instituição espírita que, mais tarde, seria a geradora da campanha de Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita (ESDE).

A SELC já mantinha, na década de 70, grupos permanentes de estudo metódico do Espiritismo e que adotavam os programas do COEM – Centro de Orientação e Estudo da Mediunidade – exitosa iniciativa do Centro Espírita Luz Eterna, de Curitiba. Com o tempo, a SELC elaborou seus próprios programas e sua experiência com grupos de estudo constituiu-se no laboratório da campanha que seria lançada pela FERGS.

Recordo que, certa noite, após uma reunião doutrinária, conversávamos o Jones e eu, sobre a lacuna existente no movimento espírita, relativa ao estudo doutrinário, lamentando que as casas espíritas descurassem do que seria sua atividade essencial – o estudo -, dedicando suas energias a tarefas menos prioritárias.

domingo, 22 de janeiro de 2023

LIVRO DO V ENCONTRO

A CEPABrasil tem a honra de apresentar ao público o livro do V Encontro Nacional da CEPABrasil. 

O V Encontro foi um evento realizado nos dias 04 a 06 de novembro de 2022, no Centro Espírita Allan Kardec, na cidade de Santos.Naquela oportunidade, pensadoras e pensadores espíritas de várias regiões do Brasil apresentaram suas reflexões sobre a temática central do Encontro: Espiritismo: metafísica e questões sociais. Essas reflexões agora estão disponibilizadas para download gratuito nesta página. Clique na imagem para acessar o arquivo.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

domingo, 31 de julho de 2022

V ENCONTRO NACIONAL DA CEPABRASIL

ESPIRITISMO: METAFÍSICA E QUESTÕES SOCIAIS

Ficha de inscrição gratuita.

De 04 a 06 de novembro de 2022 - Cidade de Santos/São Paulo/Brasil

Caso queira apresentar um trabalho, siga as instruções que constam no mesmo link da inscrição abaixo:

https://forms.gle/9sgE8QwC8zmoetzG9





sábado, 25 de junho de 2022

Estupro, Dogmatismo e Insensibilidade

 

Por Jacira Silva, Marcelo Henrique e Milton Medran Moreira*

"Há sempre crime quando se transgride a Lei de Deus." 

("O Livro dos Espíritos, item 358)


O Espiritismo é uma doutrina relativamente nova para o contexto do planeta Terra. Cento e sessenta e cinco anos (1857-2022) é muito pouco para que sua filosofia seja difundida, entendida e, sobretudo, praticada. Mesmo que seus princípios sejam universais e permanentes, com referência a ensinos dados por vários seres humanos no curso da História ou que componham o ideário de religiões e filosofias, da Antiguidade para a Modernidade, o desenho integral e sistêmico das Leis Espirituais ainda necessita derivar, em termos de compreensão e entendimento, da maturidade dos indivíduos (Espíritos).

segunda-feira, 13 de junho de 2022

EDITAL DE CONVOCAÇÃO

 

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DELEGADOS E AMIGOS DA CEPA CEPABRASIL
CNPJ 07.155.135/0001-75

EDITAL DE CONVOCAÇÃO
ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA PARA ALTERAÇÃO DO ESTATUTO
(nos termos dos artigos 13 §1º e 11, IV, do Estatuto da Associação)

A CEPABrasil, com sede na cidade de Santos, estado de São Paulo, através de sua Diretoria Administrativa, devidamente representada por seu presidente  RICARDO DE MORAIS NUNES, com base nos artigos 13, §1º, e 11, IV, do estatuto, CONVOCA todos os associados em condições de votar, nos termos do artigo 6º, V, para a Assembleia Geral Extraordinária a ser realizada no dia 15 de outubro de 2022, com a seguinte Ordem do Dia: 1-Aprovar a reforma do estatuto da Associação Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA-CEPABrasil;  2- A Assembleia Geral será instalada em primeira convocação às 17:00 horas, com a presença da maioria absoluta dos associados e, em segunda convocação, às 17h30, com no mínimo um terço dos associados em condições de votar. A aprovação da reforma estatutária será aprovada pela concordância de no mínimo dois terços dos associados presentes a Assembleia, conforme artigo 11, inciso XI, §1º, do Estatuto. A Assembleia será realizada on-line, através da plataforma Zoom, a ser acessada no seguinte endereço:

https://us02web.zoom.us/j/81183298183?pwd=aGNwR2lMSlY3MjVMRG1VN212WmRkUT09

Para que os associados tomem amplo conhecimento do texto, é anexada a este Edital  cópia do estatuto sob votação, em cumprimento ao artigo 12, § 3º,do atual estatuto. Quaisquer dúvidas ou sugestões sobre o assunto devem ser encaminhadas ao endereço eletrônico: https://groups.google.com/g/cepabrasil

 Santos (SP), 13 de junho de 2022

Ricardo de Morais Nunes 

domingo, 10 de abril de 2022

RÚSSIA X UCRÂNIA/OTAN: UMA REFLEXÃO


Ricardo de Morais Nunes

  • Servidor público, Bacharel em
  • direito, Lic em filosofia

Esse artigo foi escrito em 07 de março de 2022, não sei qual será a situação da Humanidade na época de sua publicação. Nunca estivemos tão próximos de um conflito nuclear desde a década de 60 com a chamada crise dos mísseis cubanos, quando os Estados Unidos descobriram instalações de mísseis soviéticos em território cubano, portanto, em sua vizinhança.

 Devemos muito ao bom senso dos Estados Unidos e da União Soviética à época, pois, apesar da gravíssima crise de alguns dias que o mundo passou naquele momento histórico, souberam dar um passo atrás e dialogar e com essa atitude evitaram uma terceira e última guerra mundial.

Espero que quando esse artigo for publicado a paz já tenha se estabelecido entre Rússia e Ucrânia.

A Rússia invadiu um país soberano e isso é condenável. Concordo com o ex ministro das Relações Exteriores do Brasil Celso Amorim quando diz que, em termos de direito internacional, tal invasão é “inaceitável”. Segundo Aldo Fornazieri, professor de sociologia, está em jogo o conceito de guerra preventiva:

“que garante a um Estado atacar outro Estado, mesmo que este não tenha desencadeado hostilidade, mas represente algum perigo de ataque futuro no juízo daquele Estado agressor. Foi sob esta justificativa que os Estados Unidos atacaram o Iraque e o Afeganistão. Nenhum dos dois desenvolvia qualquer hostilidade ou representava qualquer perigo imediato para os americanos. A Rússia aplicou a mesma justificativa contra a Ucrânia. Esta não desenvolvia hostilidade e não representava qualquer perigo imediato para a Rússia” (“A guerra preventiva imperial de Putin” –Aldo Fornazieri).

Segundo Fornazieri a tese que defende a realização de guerras preventivas atenta contra o direito e a ordem internacional.

No entanto, se faz necessário conhecer os fatos, até mesmo para encontrarmos saídas para a paz nesse conflito e também para melhor nos posicionarmos frente a ele. A professora de direito internacional, Carol Proner, em artigo recente, no qual tenta compreender as razões da guerra afirma com acerto a meu ver:

 “Essas são apenas algumas das variáveis que ampliam as camadas de complexidade do conflito na Ucrânia. De modo algum justificam a deflagração militar da Rússia contra o país eslavo, mas explicam as razões históricas cumulativas que devem ser compreendidas inclusive como fator para deslindar uma saída para a guerra em andamento. Conhecer em profundidade o conflito também fornece subsídios para arrazoar um novo arranjo internacional que previna não apenas a guerra em si, mas novos tipos de ingerências, de desestabilização e de golpes de Estado”. (“O que acontece na Ucrânia vai além do que a lógica interna da ONU supõe”- Carol Proner)

A guerra, apesar de lamentável, como qualquer outro fenômeno social e político também pode nos fazer aprender mais sobre as estruturas deste mundo em que vivemos.  A guerra pode ensinar sobre o ser humano em particular e sobre as nossas sociedades em geral.

É possível verificar, nas páginas da história mais recente da Ucrânia, uma grande turbulência política e institucional, na qual forças contraditórias pró-Rússia e pró-ocidente se enfrentam seriamente na luta pelo poder naquele país. Não entrarei em todos os pormenores históricos, culturais e políticos que envolvem aquela nacionalidade e suas relações com a Rússia. Para aqueles que desejarem conhecer um pouco mais sobre esse tema há farto material na internet.

  A Ucrânia foi uma das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Dessa forma, particularidades que são fruto dessa relação histórica aparecem com força nessa grave crise, tanto no sentido de existirem aspirações nacionalistas legítimas de independência total em relação a Rússia, por parte de cidadãos ucranianos, quanto no sentido da existência de regiões geográficas separatistas que desejam sua independência por serem pró-Rússia.

A OTAN está cercando militarmente os territórios da Rússia por intermédio de nações vizinhas a suas fronteiras e com isso está rompendo acordos internacionais feitos desde a época da dissolução da União soviética.

 Existe um mapa muito interessante disponibilizado na internet que mostra muito claramente o cerco da OTAN à Rússia através das nações vizinhas, sendo a Ucrânia um dos últimos espaços em termos de segurança geopolítica russa ainda não ocupados.

  A OTAN é a Organização do Tratado do Atlântico Norte. Em outras palavras, uma aliança militar do ocidente liderada pelos Estados Unidos. Trata-se de um produto da guerra fria que rivalizava com o pacto de Varsóvia, aliança militar dos países socialistas.

O pacto de Varsóvia se extinguiu por ocasião da dissolução dos países socialistas no final do século XX. A OTAN está em atividade plena ainda na atualidade, apesar da razão de sua existência, o comunismo soviético, não existir mais.

Segundo o governo da Rússia há motivo para receio, pois a OTAN, em suas fronteiras, significa a possibilidade de ter um vizinho hostil com armas nucleares pronto para atacá-la, o que levaria a um desequilíbrio de forças entre potências historicamente rivais e nucleares. A Rússia trata essa aproximação da OTAN como uma “ameaça existencial”.

Na condição de espírita e também em razão da característica de minha personalidade, sempre serei contrário às guerras e rejeito a violência como caminho para a resolução dos conflitos interpessoais e também entre as nações, aceitando a violência apenas em último caso como legitima defesa frente a uma agressão injusta.

No entanto, constato na história que a violência tem sido inúmeras vezes o modus operandi de resolução de conflitos entre as nações soberanas, e que os interesses econômicos, políticos, enfim, geopolíticos, das nações poderosas militarmente são os que acabam prevalecendo em última instância.

Infelizmente, a lei do mais forte ainda vige entre as nações, apesar de todo o avanço do direito internacional e dos fóruns internacionais.

 Dessa forma, lamento profundamente a invasão da Ucrânia pela Rússia e sinto de coração por todos os que estão morrendo naquele país por causa dessa invasão. Penso nos cidadãos comuns, e mesmo nos soldados de ambos os lados, que sofrem em meio a toda a destruição de uma guerra, e que acabam por terem suas vidas particulares profundamente alteradas.

 O número de refugiados da Ucrânia, nesse momento, já é alarmante, o que se constitui em um gravíssimo problema de acolhimento dessas pessoas em várias partes do mundo, e, em especial, na Europa.

 É necessário dizer, porém, em obediência à minha honestidade intelectual e ao meu senso de justiça, que também lamento esse assédio militar irresponsável proporcionado pelas forças do ocidente, o qual se constitui em uma verdadeira provocação temerária, de um ponto de vista realista das relações internacionais, a uma grande potência nuclear.

 Mais responsabilidade é o que esperamos seja dos líderes do ocidente ou do oriente, ainda mais daqueles que podem iniciar uma guerra nuclear, da qual não nos salvaremos, nem os ucranianos, nem os russos, nem nós, terráqueos, caso ocorra uma guerra dessa natureza.

No Brasil e no mundo esse tema está sujeito a discussões calorosas. Aliás, vivemos a época dos debates em redes sociais, dos cancelamentos e lacrações, em virtude das opiniões sobre diversos temas da vida política e social. Há espíritas, inclusive, que se colocam de um lado ou de outro do conflito.

Entendo, porém, que não se trata de pensar esse conflito de forma maniqueísta, em termos de mocinhos e bandidos em campos claramente demarcados. Há mútua responsabilidade de todos os agentes envolvidos nessa guerra, a qual, inclusive, poderia ter sido evitada se tivesse havido bom senso geopolítico entre as partes.

A consciência da possibilidade da ocorrência de uma guerra nessa sensível questão já era de conhecimento de todas as partes envolvidas, tanto da parte dos russos e dos ucranianos, quanto da parte das potências ocidentais.

 Os russos, ao longo dos últimos anos, deixaram clara sua posição nos fóruns competentes, e os governos ocidentais foram advertidos, inclusive por importantes especialistas e autoridades em relações internacionais do próprio ocidente, que essa proximidade da OTAN das fronteiras russas implicava em sério risco.

Uma vez que essa lamentável guerra está instalada, acredito que o melhor posicionamento dos espíritas e dos humanistas em geral é nos manifestarmos favoravelmente ao cessar-fogo, ao diálogo, à diplomacia e à paz, e torcer por uma boa resolução que contemple o equilíbrio internacional entre potências nucleares.

Portanto, não sou favorável à invasão de qualquer país. Mas não isento de responsabilidades nas causas do conflito nenhuma das partes envolvidas, seja Biden, Putin ,Zelensky ou os líderes europeus.

 Esses personagens e seus governos possuem extrema responsabilidade por esses graves problemas pelos quais estamos passando. Não considerar a responsabilidade histórica e política dos grandes atores internacionais nas causas que levaram a essa guerra, significa ter uma visão parcial da realidade.

  É necessário conhecer a complexidade da realidade, ainda mais em tempos de discurso único, nos quais se procura encontrar um “bode expiatório” para os problemas do mundo. Tem ocorrido com frequência em nossos dias, neste tema, mas também em outros temas relevantes para a sociedade, verdadeiros “bombardeios midiáticos”, nos quais as análises vão apenas em uma direção.

 Esse procedimento de simplificação de problemas de forma binária, através da “demonização” de nações, grupos ou indivíduos com vistas a atribuir uma culpa ou responsabilidade exclusiva em problemas sociais complexos já deu muito errado na história.  O holocausto dos judeus pelos nazistas, a discriminação e perseguição aos islâmicos após 11 de setembro. A onda de sinofobia, estigmatização de chineses, por conta da pandemia de coronavírus, são apenas alguns exemplos.

 Não precisamos, portanto, nesse início do século XXI, de uma russofobia, por mais que respeitemos o direito de soberania da Ucrânia.

Por fim, deixei de abordar no presente artigo as questões econômicas em jogo nessa guerra, as quais fazem o pano de fundo de tudo o que está acontecendo nesse conflito, o qual, embora regional, implica em interesses globais das grandes potências envolvidas. Sendo que tais interesses representam a busca por hegemonia no sistema capitalista internacional.

Se me fosse dado fazer um manifesto sobre essa guerra, aproveitaria a oportunidade na qual estamos percebendo um grave risco de guerra nuclear, para um manifesto solicitando total renúncia, por parte de todas as grandes potências, ao uso de armas nucleares.

Penso que essa renúncia contribuiria, de forma efetiva, se não para a paz universal, pelo menos para afastar o risco de aniquilação instantânea da Humanidade. Que os exemplos históricos de Hiroshima e Nagasaki permaneçam eternamente em nossa memória coletiva de forma indelével!

  Que a nossa parte de espíritas seja o incentivo ao diálogo, à compreensão mútua e a paz! Mais do que nunca é necessário compreender para resolver. E compreender não significa justificar e muito menos desejar a guerra. Significa apenas não abrir mão da racionalidade, mesmo em um momento tão difícil na história do jovem século XXI.

[Artigo publicado originalmente no Jornal Abertura Nº 384 de Abril 2022]