20 janeiro 2025

As Quatro Forças Universais - Por Beto Souza

As Quatro Forças Universais

Por Beto Souza

 Artigo publicado no jornal CCEPA OPINIÃO n° 321, de setembro/2023

Roberto Souza é graduado em Teologia e Filosofia e presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, ex diretor do Departamento de Estudos do CCEPA.

 

Recentemente circularam notícias sobre os cientistas estarem perto de descobrir a “quinta força da natureza” e, como geralmente acontece nesses momentos, cresceram também os comentários nos grupos de estudo espíritas sobre teorias científicas que parecem se aproximar das concepções metafísicas presentes no pensamento espiritualista universal e, particularmente, nas respostas dos espíritos para Allan Kardec (1804-1869) sobre as substâncias formadoras do cosmos.

            No pensamento vitalista de fins do século XVIII já existia uma aproximação, ou tentativa de aplicação, das teorias do magnetismo aos corpos orgânicos através de um "Magnetismo Animal", desenvolvido por Franz Anton Mesmer (1734-1815), baseada na ação do que, então, se denominava fluidos. Conceito este também trabalhado por Allan Kardec, principalmente no capítulo XIV do livro "A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo", de 1868.

Na metade do século XIX, a ideia de que a natureza era governada por forças fundamentais ainda não estava desenvolvida. Das forças, a gravidade era uma das mais compreendidas e para os fenômenos físicos buscava-se a explicação por meio de teorias mecânicas clássicas. Em "O Livro dos Espíritos", de 1857, Allan Kardec trata das forças e elementos gerais do Universo, conforme o pensamento de sua época, como no questionamento abaixo:

Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Questão 27.  Há então dois elementos gerais do Universo: a matéria e o espírito?

“Sim e acima de tudo Deus, o Criador, o Pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal. Mas ao elemento material se tem que juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o espírito possa exercer ação sobre ela. Embora, de certo ponto de vista, seja lícito classificá-lo com o elemento material, ele se distingue deste por propriedades especiais. Se o fluido universal fosse positivamente matéria, razão não haveria para que também o espírito não o fosse. Está colocado entre o espírito e a matéria; é fluido, como a matéria é matéria, e suscetível, pelas suas inumeráveis combinações com a matéria e sob a ação do espírito, de produzir a infinita variedade das coisas de que apenas conheceis uma parte mínima. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o espírito se utiliza, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá.”

a) Esse fluido será o que designamos pelo nome de eletricidade?

“Dissemos que ele é suscetível de inúmeras combinações. O que chamais fluido elétrico, fluido magnético, são modificações do fluido universal, que não é, propriamente falando, senão matéria mais perfeita, mais sutil e que se pode considerar independente.”

Assim, para Kardec, todas as forças eram especializações deste fluido especial, o fluido cósmico universal e sua ação mais evidente em nossa realidade seria através do princípio vital, conceito já teorizado em outras culturas, com diferentes nomes como Ka, Ki, Chi, Prana, Força Ódica e outros, mas que hoje poderíamos considerar semelhante a uma “energia vital”.

Após Kardec, que desencarnou em 1869, a Ciência avançou em conceitos, teorias e nomenclaturas.

Em 1897, o físico britânico Joseph John Thomson (1856-1940) descobriu o elétron, uma partícula subatômica com carga negativa, permitindo o desenvolvimento da teoria atômica, descrevendo a estrutura do átomo. Em 1905, o físico alemão Albert Einstein (1879-1955) publicou artigos que revolucionaram a física e, em um deles, a teoria da relatividade, considerando que a gravidade não é uma força à parte, mas sim uma consequência da curvatura no “continuum espaço-tempo”, expressão desenvolvida por Hermann Minkowski (1864-1909) para descrever o espaço e o tempo como um conjunto único e contínuo, ao invés de separados, considerando também o tempo como uma dimensão, a quarta, em seu sistema de coordenadas.

Assim, no início do século XX, a teoria da relatividade geral de Einstein e a teoria eletromagnética de James Clerk Maxwell (1831-1879) eram as duas teorias físicas mais importantes. Essas teorias tratavam de duas das quatro forças fundamentais consideradas atualmente:

Força Gravitacional: Responsável pela atração entre objetos com massa, como planetas, estrelas e galáxias.

Força Eletromagnética: Atua na atração e repulsão entre partículas com carga elétrica, como elétrons e prótons.

Força Nuclear Fraca: Responsável por transformar prótons em nêutrons e vice-versa.

Força Nuclear Forte: A força forte é a força mais poderosa das quatro forças fundamentais, responsável pela ligação entre os quarks, as partículas subatômicas que formam os prótons e nêutrons.

Alexandre Cardia Machado em seu livro "Uma Breve História do Espírito", ensina que uma das teorias formuladas para explicar o surgimento das forças é do chamado "Campo de Higgs", onde estaríamos mergulhados e que, embora não atue nas energias eletromagnéticas e seja conceitualmente diferente do conceito de Fluido Cósmico Universal, interfere nas forças que envolvem aceleração como a força gravitacional. Essa teoria de um campo quântico presente em todo Universo e dando massa para as partículas subatômicas foi proposta em 1964 pelo físico britânico Peter Higgs (nascido em 1929) e recebeu seu nome. Os cientistas ainda estão tentando unificar as quatro forças fundamentais em uma única teoria, que seria chamada de “Teoria do Tudo”. No entanto, até o momento, essa teoria ainda não foi formulada e novas descobertas tendem a impulsionar expectativas neste sentido.

As notícias sobre uma quinta força universal envolvem uma partícula subatômica formada por colisões de alta energia, chamada de “múon” e que decai em elétrons e neutrinos. Os cientistas descobriram um comportamento diferente do esperado na aceleração de partículas, indicando que o “múon” estaria sob a ação de alguma força que não sabem qual, diferente das quatro fundamentais já conhecidas.

Para os espiritualistas, uma “Teoria de Tudo” passa pela união de dois princípios, o material e o espiritual, cuja interação ocorre devido a ação de um mediador semimaterial denominado corpo astral, corpo espiritual ou, na nomenclatura espírita, perispírito, que uniria as diferentes teorias explicando como se dá a transmissão da vontade espiritual, inteligente, sobre a matéria, produzindo ordem no que sem ela seria caos e lembrando o “Efeito do Observador”, que envolve um sistema quântico ser forçado numa direção apenas por ser observado, ou seja, a ação de uma vontade inteligente na organização subatômica da matéria.

De acordo com a nomenclatura de seu tempo, Allan Kardec acreditava que a organização cosmológica era explicada pela gravidade, magnetismo, eletricidade e a força vital, mas como especializações de um agente unificador mais antigo, o Fluido Cósmico Universal. Kardec também acreditava que estas forças eram conectadas e que poderiam ser unificadas em uma única teoria. Contudo, a Ciência da época, e ainda hoje, mantém um nível de descrédito sobre seu pensamento, por considerá-lo comprometido e influenciado por crenças religiosas, pois ele acreditava que o Universo foi criado por Deus, que as forças fundamentais são manifestações de uma vontade divina e que os Espíritos existem, sobrevivem e se comunicam.

Penso que as novas descobertas têm se aproximado de muitos dos conceitos de antigas tradições espiritualistas, como as orientais, muito bem trabalhadas por Fritjof Capra em seu livro "O Tao da Física" e que, no geral, os avanços científicos não invalidam as ideias de Allan Kardec, mas demonstram estarmos todos no mesmo “Caminho”.


 

 

Fontes de Consulta

1. Allan Kardec. O Livro dos Espíritos.

2. Allan Kardec. Revista Espírita de 1858.

3. Allan Kardec. A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo.

4. Alexandre Cardia Machado. Uma Breve História do Espírito. 1. ed. Santos, SP: ICKS, 2022.

Disponível em:

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/27-icks-colecao-abrindo-a-mente?download=200:uma-breve-historia-do-espirito-alexandre-cardia-machado

5. Google. Inteligência Artificial, IA Bard. Disponível em: https://bard.google.com/?hl=pt-BR

6. CNN Portugal. Cientistas acreditam estar perto de descobrir a quinta força da natureza.

Disponível em:

https://cnnportugal.iol.pt/quinta-forca/forcas-da-natureza/cientistas-acreditam-estar-perto-de-descobrir-a-quinta-forca-da-natureza-pode-ser-qualquer-coisa-novas-particulas-novas-forcas-novas-dimensoes-novas-caracteristicas-do-espaco-tempo/20230811/64d67e42d34e3ae5b8c497a2

7. Meteored. A quinta força da natureza? Físicos encontram partícula se comportando de forma estranha. Disponível em:

https://www.tempo.com/noticias/actualidade/a-quinta-forca-da-natureza-fisicos-encontram-particula-se-comportando-de-forma-estranha-fisica.html