Paranoia Obsidente
Salomão Jacob Benchaya - bacharel em Economia, ex- Presidente do Centro Cultural Espirita de Porto Alegre- (CCEPA ), da Federação Espirita do Rio Grande do Sul, Diretor da CEPA Associação Espírita Internacional, um dos criadores do ESDES, colaborador do Jornal CCEPA- OPinião, um dos criadores do MEP - Movimento Espírita Progressista e Presidente eleito da CEPABrasil para o Biênio 2026/27.
Allan Kardec define obsessão como
o “domínio que alguns espíritos logram obter sobre certas pessoas. Nunca é
praticada senão pelos espíritos inferiores, que procuram dominar” (LM, Cap.
XXIII, 237).
No movimento espírita, há um
comportamento que merece ser analisado, com respeito a esse tema. Em não poucos
Centros Espíritas, tornou-se comum recepcionar os frequentadores através de
entrevistas, ou “diálogo fraterno”, em que são escutadas as queixas ou
motivações para a procura do espiritismo. Como um grande número de pessoas
busca socorro para suas aflições e que chegam angustiadas na Casa Espírita, estas
recebem a prescrição de frequentar as sessões de “tratamento espiritual” ou de
desobsessão, destinadas a proporcionar alívio e reequilíbrio psíquico-emocional
ao indivíduo. Há um pressuposto de que as pessoas chegam “carregadas” e
necessitam de uma “limpeza espiritual”. Isso me faz recordar de procedimento
semelhante que ocorria em sessões de Umbanda que frequentei na minha juventude,
em que os guias costumavam informar aos consulentes que precisavam “desmanchar
um trabalho feito”. Em ambas as situações, é como se se dissesse à pessoa: -
Você necessita de nós! Veja em que condições você está chegando! Já de início,
uma relação de dependência e de submissão se estabelece. Em alguns centros,
essa iniciação consiste em frequentar tantas sessões de desobsessão e tomar
tantos passes
De uma certa forma, Kardec – leia-se Espíritos
Superiores – contribuiu para o estabelecimento disso que eu chamo “paranoia
obsidente”, a crença generalizada de que estamos à mercê de espíritos
obsessores, sempre prontos a atacar e submeter suas vítimas.
Ao perguntar aos Espíritos, na
questão 459 de O Livro dos Espíritos, se “influem os Espíritos em nossos
pensamentos e em nossos atos”, o fundador do Espiritismo foi informado que
“muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que de ordinário são eles
que vos dirigem.” Acho que os codificadores “pegaram pesado” nessa resposta.
Excetuados os casos verdadeiros de obsessão, estaria decretada a falência do
livre-arbítrio e o domínio quase absoluto do mundo físico pelos espíritos inferiores.
Daí para a crença de que até um
tropeção na rua foi devido a um empurrão espiritual, é um passo.
Resultado: crentes medrosos,
sempre buscando “proteção espiritual”, dependentes de “anjos da guarda”, pois
que receosos da ação das trevas, da qual nem as casas espíritas estariam
isentas, tanto que, para evitar isso, são realizadas “sessões de defesa
espiritual” para doutrinar os contumazes obsessores.
Enquanto isso, o estudo da
Filosofia Espírita, conhecimento que liberta, repousa intocado como na história
do paciente que, repreendido pelo médico por não haver tomado o remédio
prescrito, justificou-se dizendo: - Mas doutor, no frasco dizia para manter o
vidro bem fechado!
Originalmente postado no CCEPA OPINIÃO de julho/2018.
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