20 novembro 2025

Paranoia Obsidente - Salomão Jacob Benchaya

 

Paranoia Obsidente

 Salomão Jacob Benchaya - bacharel em Economia, ex- Presidente do Centro Cultural Espirita  de Porto Alegre- (CCEPA ), da Federação Espirita do Rio Grande do Sul, Diretor da CEPA Associação Espírita Internacional, um dos criadores do ESDES, colaborador do Jornal CCEPA- OPinião, um dos criadores do MEP - Movimento Espírita Progressista e Presidente eleito da CEPABrasil para o Biênio 2026/27.

Allan Kardec define obsessão como o “domínio que alguns espíritos logram obter sobre certas pessoas. Nunca é praticada senão pelos espíritos inferiores, que procuram dominar” (LM, Cap. XXIII, 237).

No movimento espírita, há um comportamento que merece ser analisado, com respeito a esse tema. Em não poucos Centros Espíritas, tornou-se comum recepcionar os frequentadores através de entrevistas, ou “diálogo fraterno”, em que são escutadas as queixas ou motivações para a procura do espiritismo. Como um grande número de pessoas busca socorro para suas aflições e que chegam angustiadas na Casa Espírita, estas recebem a prescrição de frequentar as sessões de “tratamento espiritual” ou de desobsessão, destinadas a proporcionar alívio e reequilíbrio psíquico-emocional ao indivíduo. Há um pressuposto de que as pessoas chegam “carregadas” e necessitam de uma “limpeza espiritual”. Isso me faz recordar de procedimento semelhante que ocorria em sessões de Umbanda que frequentei na minha juventude, em que os guias costumavam informar aos consulentes que precisavam “desmanchar um trabalho feito”. Em ambas as situações, é como se se dissesse à pessoa: - Você necessita de nós! Veja em que condições você está chegando! Já de início, uma relação de dependência e de submissão se estabelece. Em alguns centros, essa iniciação consiste em frequentar tantas sessões de desobsessão e tomar tantos passes

 De uma certa forma, Kardec – leia-se Espíritos Superiores – contribuiu para o estabelecimento disso que eu chamo “paranoia obsidente”, a crença generalizada de que estamos à mercê de espíritos obsessores, sempre prontos a atacar e submeter suas vítimas.

Ao perguntar aos Espíritos, na questão 459 de O Livro dos Espíritos, se “influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos”, o fundador do Espiritismo foi informado que “muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que de ordinário são eles que vos dirigem.” Acho que os codificadores “pegaram pesado” nessa resposta. Excetuados os casos verdadeiros de obsessão, estaria decretada a falência do livre-arbítrio e o domínio quase absoluto do mundo físico pelos espíritos inferiores.

Daí para a crença de que até um tropeção na rua foi devido a um empurrão espiritual, é um passo.

Resultado: crentes medrosos, sempre buscando “proteção espiritual”, dependentes de “anjos da guarda”, pois que receosos da ação das trevas, da qual nem as casas espíritas estariam isentas, tanto que, para evitar isso, são realizadas “sessões de defesa espiritual” para doutrinar os contumazes obsessores.

Enquanto isso, o estudo da Filosofia Espírita, conhecimento que liberta, repousa intocado como na história do paciente que, repreendido pelo médico por não haver tomado o remédio prescrito, justificou-se dizendo: - Mas doutor, no frasco dizia para manter o vidro bem fechado! 

                                                     Originalmente postado no CCEPA OPINIÃO de julho/2018.

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