Em busca de uma sociedade mais justa e igualitária
A questão da Mulher – do Ser
Feminino
Pensando em dar mais alguma
contribuição para o tema central do Fórum: “Propostas para o Espiritismo
Futuro: quebra de paradigmas”, decidi trazer uma questão, também social e muito
importante, que reflete ou afeta diretamente a nossa evolução enquanto espíritos
imortais, que é a questão da mulher, do ser feminino.
Este é um tema com o qual eu
estou diretamente envolvida e, portanto, acho que posso ter algo a contribuir
para a reflexão proposta por este Fórum.
Penso que há muitos paradigmas a serem quebrados nesta questão, na sociedade e no espiritismo, que acaba sendo o reflexo da sociedade machista e patriarcal, repetindo os modelos impostos às mulheres, aceitando os estereótipos como sendo naturais, quando, na verdade, deveriam ser, os espiritas, os primeiros a levantar a bandeira da igualdade de direitos entre homens e mulheres, uma vez que já dentre os princípios desta doutrina está que o espírito não tem sexo, que pode reencarnar tanto em corpo masculino como feminino.
Kardec e o espiritismo, são
pioneiros ao tratar este assunto em meados do séc. XIX, quando ainda se
discutia se a mulher teria ou não alma.
Eu me questiono sempre, em que
momento na história, as mulheres aceitaram a sua inferioridade? E quando ou
quem deu ao homem a certeza de sua superioridade? E tudo isso se sedimentou na
ideia de que é da natureza primordial de cada gênero, ou seja, são papeis
intrínsecos da criação de Deus. Mas, pergunto-me como isso é possível quando
vivemos existências em corpos masculinos e femininos, conforme afirma a
doutrina espírita? O que ocorre? O espírito alterna entre ser superior
(dominador) e inferior (dominado)? Ou será que não é bem assim? Que nós
reencarnamos muitas e muitas vezes somente em um gênero e a situação da mulher
não muda por causa disso? Ou ainda, as características de cada gênero são como
uma matriz e o espírito que reencarna neste ou naquele corpo recebe influência
direta e definem o seu comportamento? Como se dá, então, a evolução do espírito
quando encarnado em corpo feminino se todas estas limitações são inerentes a
este gênero? Essa é uma questão que deve ser revista para que, efetivamente, possamos
quebrar o paradigma da era patriarcal. A subjugação do feminino é uma criação
humana e social., oriunda talvez das diferenças físicas que cada organismo
possui, da questão do corpo preparado para receber outro ser (maternidade) e,
também, pelo orgulho e medo do ser masculino em se demonstrar fraco perante uma
mulher mais forte do que ele. Os homens têm dificuldades em aceitar que a
mulher pode ser mais forte e inteligente do que ele. Além, obviamente, das
questões relacionadas ao poder, ao patrimônio, às riquezas, ou seja: “Nunca foi
natural. Sempre foi política”, uma frase de Ana Claudia Laurindo que nos faz
refletir sobre essa naturalização da subjugação e submissão das mulheres.
Alguns dados sobre as conquistas
das mulheres, para aqueles que acham que estou exagerando em relação (quanto)
aos prejuízos que reencarnar em corpo feminino podem ocasionar em relação à
evolução do espírito:
- Direito à educação formal –
somente no início do século XIX;
- Consideradas propriedade do
homem (pai, marido), também até o século XIX;
-
Direito a voto no Brasil -1932 – mulheres solteiras, viúvas e com curso
superior, (como se fosse comum para uma mulher ter um curso superior em 1932).
E somente em 1946 foi estendido à todas as mulheres;
Direitos conquistados últimos 40
anos:
1988 – A Constituição passou a
enxergar homens e mulheres como iguais. Antes eram consideradas cidadãs de
segunda categoria.
2002 – Falta de virgindade deixa
de ser motivo para anular casamento;
Direitos conquistados nos últimos
15 anos:
2006 – Lei Maria da Penha – antes
a mulher não tinha como denunciar, não tinha como tipificar a violência. Só
existia a Lei de Lesão Corporal.
2016 – Primeiro banheiro feminino
no Senado. Antes as mulheres iam para fora do Senado utilizar o banheiro do
restaurante.
2023 – O homem deixa de poder
alegar Defesa da Honra ao matar sua mulher.
O Feminismo
Feminismo: pronto, lá vem mais
uma Feminista nos dizer o que a mulher quer ou não quer para ela mesma. Sempre
ouço: “mas quem disse que eu quero isso pra mim”, de algumas mulheres que não
querem ser autônomas, que desejam permanecer conservadoras em relação a isso.
No entanto, acredito que essas mulheres estão tão aculturadas pelo patriarcado,
que não percebem que este é o lugar e o espaço que os homens querem para elas.
Mas, de qualquer forma, o fato de a mulher escolher ou não se importar com o
patriarcado, não invalida, ou não deveria invalidar, a luta e o desejo das
outras mulheres que almejam outra situação. E não se trata de dizer que almejam
algo melhor, porque aí desqualificaremos aquela que não deseja isso. Apenas uma
busca por outra situação, uma na qual sua essência, suas habilidades, sua
inteligência possam ser desenvolvidas livremente.
O Feminismo e a Mulher Espírita
Então, para as mulheres,
espíritas inclusive, que julgam o movimento feminista como sendo algo ruim,
algo ligado a ideologias específicas, eu tenho uma notícia para lhes dar: a
luta das mulheres é muito antiga, muito anterior a qualquer uma dessas ideologias
que estão sendo relacionadas ao movimento. A luta das mulheres não se resume a
“tirar os sutiãs e queimá-los em praça pública”. Essa imagem pontual foi a que
os “homens” quiseram que nós tomássemos conhecimento, desqualificando e
enfraquecendo a luta das mulheres e colocando-as umas contra as outras. Os
historiadores, homens, conseguiram o feito de “apagar” muitas das ações de
mulheres em momentos decisivos e importantes para a humanidade.
Os espíritas, as mulheres
espíritas, precisam, como primeiro passo, estudar, ler e conhecer as histórias
das incontáveis mulheres que deram a vida para garantir alguns dos direitos que
nós temos hoje. E quando dizemos “deram a vida”, não é porque trabalharam a
vida toda apenas por seus ideais, é porque foram assassinadas mesmo.
Bem, o propósito hoje não é
aprofundar a questão do patriarcado, até porque é também muito importante que
as casas espíritas promovam debates sobre isso, sobre o machismo estrutural, o
racismo estrutural e a violência cada vez mais exacerbada contra as mulheres. É
importante que se fale e que se discuta sobre a violência doméstica na casa
espírita. Ou vocês acham que só porque são homens espíritas, não existe este
tipo de relacionamento violento? Por que não se fala nada sobre isso? Por que
há este silêncio nas casas espíritas?
Ou ainda, a mulher vítima de
violência, ela se sentiria acolhida ao buscar ajuda em um Centro Espírita? Ela
seria ouvida? Ela seria ajudada, orientada?
A influência do feminino na
sociedade é um fator equilibrante. Não se trata de querer derrubar ou tomar o
poder dos homens, assumindo suas posições. Trata-se de ocupar espaços para
somar, contribuir, compartilhar conhecimentos, vivências que possam alcançar
soluções mais justas e igualitárias para toda a humanidade.
A Mulher Espírita
A condição, a posição e até o
posicionamento da mulher espírita no Brasil e dentro das Casas Espíritas,
repetem os padrões ditados pela sociedade patriarcal.
Ocupavam posições de segundo
plano, sempre na execução do que os homens demandavam.
A mulher não tinha voz na
sociedade? Também não tinha voz no Centro Espírita.
Esse cenário permanece até hoje.
As mulheres, no espiritismo em
geral e na atualidade, permanecem ocupando estes lugares de segundo plano ou
como médiuns. A mulher médium é mais respeitada não por ser mulher, mas porque
provavelmente ela é interlocutora de espíritos que se apresentam como homens.
Vocês já pararam para refletir que, excetuando Joana Di Angelis, os espíritos
que se comunicam são de homens? Na obra codificadora, quantos espíritos são
citados como mulheres? Qual foi o espírito que se apresentou como superior e
como mulher? Isso não é no mínimo curioso?
MOVMMESP, CEAK e o necessário
Protagonismo Feminino no Espiritismo
Como faço parte de um movimento
mundial de mulheres espíritas progressistas, movimento este que teve início no
meio da pandemia, em 2021 e que virtualmente reuniu mulheres espíritas do
Brasil e outros países que ansiavam por serem ouvidas e por terem mais lugares
de fala e de ação na sociedade e no espiritismo. Desde o início, conhecemos
mulheres que se sentiam totalmente apagadas dentro das casas espíritas,
boicotadas, desmerecidas, sendo sempre colocadas em segundo plano, sem
participarem de decisões importantes.
Comecei a ouvir estes relatos e
até estranhei um pouco porque minha realidade é um pouco diferente deste
cenário. O protagonismo feminino já é uma realidade no CEAK de Santos há muitos
anos. Eu tenho um trabalho, apresentado no V Encontro da CEPA Brasil, no ano
passado, que eu fiz justamente por perceber que a história e o papel da mulher
no nosso CEAK - Centro Espírita Allan Kardec, de Santos, pode ser considerado
vanguarda em relação ao protagonismo feminino no espiritismo.
As mulheres do CEAK sempre foram
muito atuantes. Sim, no princípio, as mulheres ocupavam o lugar de esposas dos
ilustres homens que comandavam a casa. A elas eram destinadas tarefas
assistenciais e evangelização espírita. Entretanto, aos poucos e com a visão
correta de que há igualdade entre homens e mulheres, conforme preconiza a
doutrina, elas começaram a ocupar os lugares diretamente ligados à Diretoria
Executiva, Doutrinária também.
Desde a década de 90 do século
passado, mulheres assumiram a presidência da Mocidade, do Conselho
Deliberativo, da Diretoria Executiva, de Departamento de Estudos, coordenando
cursos e proferindo palestras. Mulheres do CEAK participaram de Congressos apresentando
trabalhos próprios. As mulheres do CEAK foram e continuam sendo ouvidas.
Mas, há algumas peculiaridades
que surgem com esse protagonismo feminino, que se refere às características
masculinas e femininas. E esse é um dos pontos que vou relacionar, ao final,
como um dos paradigmas a ser quebrado. Um deles é que há uma fuga dos homens
das casas espíritas, quando são dirigidas por mulheres. O Homem ainda não
aprendeu a ficar em segundo plano e a ser comando por mulheres, cabendo-lhe
então o papel de executor. O homem espírita também tem esse perfil.
As mulheres, no espiritismo em
geral e na atualidade, permanecem ocupando estes lugares de segundo plano e o
de médiuns. A mulher médium é mais respeitada não por ser mulher, mas porque
provavelmente ela é interlocutora de espíritos que se apresentam como homens.
Vocês já pararam para refletir que, excetuando Joana Di Angelis, os espíritos
que se comunicam são de homens? Na obra codificadora, quantos espíritos são
citados como mulheres? Qual foi o espírito que se apresentou como superior e
como mulher? Isso não é no mínimo curioso?
Mas, no século de Kardec, se
espíritos de mulheres encabeçassem o projeto, não teria repercussão nenhuma, e
os postulados cairiam rapidamente em descrédito. Nem seriam considerados, na
verdade.
Nos últimos anos as mulheres têm
sido mais valorizadas e alguns espaços estão se abrindo. Mas, ainda há traços
culturais do patriarcado, uma vez que nós, mulheres, ainda sentimos esta
valorização como uma “concessão” e não como conquista. Mas os homens da CEPA
estão se empenhando nesta mudança cultural.
Os Coletivos Espíritas, mais
recentes, já nasceram com esta visão de igualdade e, portanto, há muito espaço
para as mulheres e elas estão ocupando e conquistando esses espaços.
“O Protagonismo feminino no
movimento espírita atual é o que esperamos para o futuro?”
- Penso que estamos abrindo
espaços. A própria organização deste Fórum, por Jacira e Mauro, já demonstra
esta abertura quando foram convidados 3 homens e 3 mulheres como expositores.
Recentemente, recebemos a divulgação de um Congresso Espírita em determinada
cidade do Brasil, com o tema central sobre A MULHER e todos os expositores,
debatedores e até organizadores do evento eram HOMENS. Ao serem questionados
sobre isso por algumas mulheres espíritas mais atuantes, responderam que não é
preciso ser mulher para falar sobre a mulher. Mas, como eles se acham
conhecedores de toda a complexidade feminina para se autorizarem a falar por
elas? Este é o maior exemplo e prova atual da preponderância masculina dentro
do espiritismo. Então, o cenário atual ainda não é e está longe de ser o que
esperamos para o futuro.
Muito lentamente, a passos de
elefante ou de tartaruga. Não sei o que é mais lento. É preciso incentivar
sempre as mulheres a se posicionarem, a se fazerem ouvidas, respeitadas em suas
ideias.
Com certeza. Não há mais como
retroceder nesta questão das competências femininas. No mundo atual, elas estão
assumindo cada vez mais os papeis de liderança. A mulher tem capacidade
intelectual e emocional para tanto. Porém, podemos citar alguns entraves:
- As mulheres espíritas querem
assumir ou ter algum protagonismo?
Nem todas, obviamente. Não
podemos dizer que é uma aspiração da maioria. Mas isso não invalida a luta das
mulheres que querem.
- Quais os entraves que as
mulheres espíritas que desejam assumir ou ter algum protagonismo encontram?
1- As mulheres se sentem incapazes (influência da cultura
patriarcal).
2- As pessoas em geral (homens e mulheres) não ouvem, não
registram o timbre de voz feminino. Então, fica mais difícil fazer valer a sua
opinião. A mulher não consegue imprimir credibilidade.
3- Os homens não incentivam e as próprias mulheres criticam aquela mulher que almeja tal posição.
- Quais paradigmas teremos que
quebrar para dar o devido espaço e valor às mulheres espíritas?
Bem, vou citar apenas os que me
ocorrem neste momento, mas com certeza haverá outros que as mulheres que me
ouvem aqui hoje, as que fazem parte do MOVMMESP, do CEAK, da CEPA e CEPA
Brasil, com certeza poderão elencar muitos outros.
1- Romper com todo e qualquer discurso ou ação em que se
considere apenas o universo masculino. Até no vocabulário é preciso ir, aos
poucos, promovendo mudanças.
Outro ponto importante que deve
ser considerado pelos homens, é que quando uma mulher assume a liderança, os
homens se retiram. Eles não sabem ser comandados por mulheres, se sentem
diminuídos em suas potencialidades. O homem não sabe assumir a função de
executor. Então, ele se anula, se afasta. Assim é também nas questões
familiares, onde os homens precisaram mudar para dividir os papeis dentro do
lar. Só que isso ainda não é 100% realidade. Somente com o passar das
experiências, é que o ser masculino vai compreender que esta divisão de papeis
não é tão rígida assim. Que a maternidade não é só responsabilidade da mulher,
que o homem tem um papel importante e que ele não veio ao mundo só para ser o
provedor e cuidado pelas mulheres. É uma mudança lenta, porém imprescindível e
inevitável.
Eu indico uma série que pode ser
vista na NETFLIX, que se chama “Explicando”, especificamente temporada 1 –
episódio: “Por que as mulheres ganham menos”. Este episódio mostra que as
mulheres ganham menos em todo o mundo e não apenas pelo fator “maternidade”. É
interessante porque coloca que o objetivo da mulher não é ter vantagens, mas
apenas ganhar o mesmo que um homem ao desenvolver o mesmo trabalho. Aborda
também que a maternidade é uma escolha das mulheres, que a mulher não deseja
abandonar a maternidade, apenas que não seja discriminada por isso.
A sobrecarga das mulheres só
diminuirá quando os homens conseguirem dizer: “eu vou à reunião escolar, não
deixarei nas costas da minha esposa”; “acompanharei meu filho ao médico, vão
vaciná-lo e eu quero estar lá.”
A desigualdade salarial não é um
problema só da mulher, mas da família. As mulheres têm todo direito de serem
mães sem ter a carreira prejudicada.
A discriminação vem diminuindo
graças a inserção feminina no mercado de trabalho. Uma mudança de perspectiva
sobre a criação dos filhos vai requerer mais uma mudança cultural. E de acordo
com muitos estudiosos, essa mudança começa com os homens. Enquanto não
pensarmos em homens e mulheres como igualmente cuidadores e provedores, isso
não vai mudar. Porque enquanto isso for problema só da mulher, estaremos
reforçando o estereótipo de que cuidar é coisa de mulher.
O documentário apresenta também
os exemplos de Ruanda e da Islândia, que atingiram a quase total igualdade de
salários entre homens e mulheres, porém, por motivos diferentes: Ruanda pelas
consequências pós-genocídio em que foram dizimadas mais de 800 mil pessoas em
100 dias. E Islândia, com uma mulher assumindo o cargo de 1ª Ministra,
alterando a legislação que dá aos homens a mesma licença que as mulheres têm ao
ter filhos, entre outras leis que contribuem para esta paridade no país.
3- A mudança na Mulher – que precisa romper com o patriarcado
e encontrar seu lugar no mundo. À mulher cabe buscar conhecimento e o
autoconhecimento para descobrir o que realmente deseja em sua vida e
diferenciar seus pensamentos próprios dos pensamentos impostos pela sociedade
patriarcal.
Mulheres: tudo o que nós pensamos
sobre nós mesmas, não é fruto da nossa própria elaboração. São pensamentos que
nos imputaram por tantas existências, que hoje nós achamos que temos
pensamentos próprios. Quando começamos a questionar isso, aí sim, estamos
elaborando o nosso próprio pensamento. Por isso, a importância de dar voz e
lugar para as mulheres, para que em um futuro, espero não muito distante,
possamos estar realmente pensando por contra própria, pavimentando nossa
estrada evolutiva e contribuindo efetivamente com a evolução da humanidade.
4- Romper com estereótipos que foram imputados às mulheres:
“princesa”, “sensível”, “sentimental”, “frágil”, “lugar de mulher é ao lado do
marido”, “lugar de mulher é no lar”, “a mulher precisa ser protegida e
preservada por causa da sua função procriadora”. Estes lugares onde colocam as
mulheres, como se estivessem em um pedestal, não tem nada de bonito nem
romântico. É a pura expressão do poder dos homens sobre as mulheres. Eles nos
colocam nesta posição para que não possamos interferir em nada.
A mulher não é frágil. A própria
maternidade nos comprova isso. Nós somos fortes, competentes, damos conta de
fazer muito mais coisas do que os homens, não temos tempo para choramingar. Se
ficamos doentes, logo nos curamos porque outros dependem de nós.
5- Romper com a Guerra dos Sexos – deixar de lado esta
competição em que se pretende definir quem é o melhor, ou quem deve comandar.
Não é uma disputa de poder. Não é esta a questão. Todos são importantes no
cenário da vida. Cada um dá a sua contribuição. Só é preciso romper com os
papeis cristalizados que foram dados a cada um dos gêneros. Ao homem cabe isso
e à mulher aquilo. O homem é mais forte e deve ser o provedor e a mulher deve
cuidar do interior. Isto está lá em Kardec, quando se afirma que, apesar do
espírito não ter sexo e de que os direitos devem ser iguais, fica bem definido
que há funções diferentes. Mas isso mudou ao longo do tempo e é preciso ser
rediscutido. Os papeis hoje são intercambiáveis.
CONCLUINDO
Quando ouvimos que AS MULHERES
VÃO DOMINAR O MUNDO, eu acho muito engraçado porque, na verdade, as mulheres
nem querem isso. Mas, pode acontecer, se os homens não conseguirem quebrar os
seus paradigmas e se anularem, como citei anteriormente.
É preciso haver uma rediscussão e
redistribuição de papeis para que cada um possa assumir suas responsabilidades
perante o mundo em que vivemos. Para que as leis sejam feitas pensando na
justiça e na igualdade, sem que haja favoritismos entre este ou aquele gênero.
Hoje ainda nos deparamos com
novas formas de expressões de gêneros, o homem e a mulher trans, famílias que
se formam com laços homoafetivos, onde os papeis são mais bem definidos e mais
justos do que nas famílias heteroafetivas. E a gente fica se restringindo a
criticar, julgar tais comportamentos ao invés de analisar mais profundamente e
tentar compreender os porquês destas relações e interações existirem à revelia
do que todos nós achávamos ser impossível. Essa é uma discussão que precisa ser
feita com mais profundidade e responsabilidade pelos espíritas do presente para
garantir o espiritismo do futuro.
Você não quer ser feminista? Não
acha que está sendo colocada de lado ou não está sendo ouvida? Não tem esse
tipo de problema? Não quer assumir nada no espiritismo? Tudo bem. Suas escolhas
precisam ser respeitadas.
Mas, é preciso respeitar e dar
apoio àquelas que querem. Não devemos minimizar a luta de outras mulheres, até
porque não sabemos os sofrimentos pelas quais passaram e que não fazem parte da
nossa realidade. Há muitas situações desfavoráveis às mulheres. Existe também a
questão mais desfavorável ainda em relação às mulheres negras, que nem é uma
realidade nas casas espiritas.
As mulheres precisam desenvolver
o sentido de Sororidade, que basicamente se resume a nos apoiarmos sempre umas
nas outras incondicionalmente. A fêmea primitiva, precisava defender o seu
provedor macho. Enquanto os machos se uniam para sair à caça, as fêmeas lutavam
com outras fêmeas para manter o seu macho.
Mulheres, nós não somos mais
primitivas. Precisamos romper com este paradigma e nos darmos as mãos. Não
precisamos ter os mesmos objetivos, somos livres e isso deve ser respeitado
porque já é uma conquista. Só precisamos respeitar e apoiar as conquistas femininas
que hoje podem não ser importantes para você, mas poderá ser para suas filhas
ou para você mesmo em uma próxima existência.
Quando afirmamos que as mulheres
não são unidas, que lutam entre si, isso já é uma construção da cultura
patriarcal, praticamente uma estratégia de guerra que visa enfraquecer o
inimigo causando cisões, discórdias, desunião. Porque o inimigo unido é muito
mais difícil de enfrentar e derrotar.
O Movmmesp este ano desenvolveu
um estudo da obra de Dora Barrancos – “A História dos Feminismos na América
Latina” que eu recomendo muito às mulheres que gostariam de começar a ler sobre
o assunto.
Também recomendo a leitura da
biografia de Anália Franco, uma mulher brasileira fantástica, que viveu no
final do séc. XIX e início do Sec. XX. Uma mulher espírita verdadeiramente em
sua essência, idealizadora, realizadora, empreendedora social, uma mulher à
frente do seu tempo, exemplo para todas nós.
Para finalizar, gostaria de
encerrar o Fórum com algumas mensagens que nos remetem a pensamentos positivos
para que possamos nos proteger dessa turbulência que tem sido as nossas vidas.
Tudo o que estamos vivendo, é reflexo ou consequência das nossas ações, das
nossas escolhas. Nós fazemos parte de uma sociedade que se apresenta doente e
precisamos assumir nossas responsabilidades sobre isso e tentar algo que possa
ajudar a promover mudanças positivas. O espiritismo pode contribuir mais do que
tem contribuído.
O espiritismo não é a salvação do
mundo, mas pode ser uma grande contribuição ao formar pessoas que realmente
podem fazer a diferença e que realmente podem tomar atitudes transformadoras.
Este Fórum trouxe várias
propostas de quebras e mudanças de paradigmas em relação ao espiritismo e em
relação à sociedade.
Precisamos nos fortalecer em
energias que nos mobilizem para a ação. Não podemos esmorecer diante de
cenários tão devastadores que estamos vivenciando. Não devemos desistir e
sucumbir diante de ideias manipuladoras que só promovem guerras, injustiças, fome,
miséria.
Precisamos nos preservar para
manter a mente limpa e saudável, procurando não reter sentimentos ruins, a não
lamentar demasiadamente por nossas mazelas do dia a dia, porque a vida é assim,
não é perfeita.
A maior lição que eu aprendi esse ano foi de uma música da Kell Smith, que vou cantar pra vocês:” tá tudo bem se não tá tudo bem todo dia”. Não vai estar tudo bem todo dia e isso é normal. E é muito bom pensar assim, porque a gente deixa tudo mais leve e segue em frente.
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