20 março 2024

Propostas para o Espiritismo Futuro: Quebra de Paradigma.

 Em busca de uma sociedade mais justa e igualitária

Por Sandra Regis*

A questão da Mulher – do Ser Feminino

Pensando em dar mais alguma contribuição para o tema central do Fórum: “Propostas para o Espiritismo Futuro: quebra de paradigmas”, decidi trazer uma questão, também social e muito importante, que reflete ou afeta diretamente a nossa evolução enquanto espíritos imortais, que é a questão da mulher, do ser feminino.

Este é um tema com o qual eu estou diretamente envolvida e, portanto, acho que posso ter algo a contribuir para a reflexão proposta por este Fórum.

Penso que há muitos paradigmas a serem quebrados nesta questão, na sociedade e no espiritismo, que acaba sendo o reflexo da sociedade machista e patriarcal, repetindo os modelos impostos às mulheres, aceitando os estereótipos como sendo naturais, quando, na verdade, deveriam ser, os espiritas, os primeiros a levantar a bandeira da igualdade de direitos entre homens e mulheres, uma vez que já dentre os princípios desta doutrina está que o espírito não tem sexo, que pode reencarnar tanto em corpo masculino como feminino.

Kardec e o espiritismo, são pioneiros ao tratar este assunto em meados do séc. XIX, quando ainda se discutia se a mulher teria ou não alma.

Eu me questiono sempre, em que momento na história, as mulheres aceitaram a sua inferioridade? E quando ou quem deu ao homem a certeza de sua superioridade? E tudo isso se sedimentou na ideia de que é da natureza primordial de cada gênero, ou seja, são papeis intrínsecos da criação de Deus. Mas, pergunto-me como isso é possível quando vivemos existências em corpos masculinos e femininos, conforme afirma a doutrina espírita? O que ocorre? O espírito alterna entre ser superior (dominador) e inferior (dominado)? Ou será que não é bem assim? Que nós reencarnamos muitas e muitas vezes somente em um gênero e a situação da mulher não muda por causa disso? Ou ainda, as características de cada gênero são como uma matriz e o espírito que reencarna neste ou naquele corpo recebe influência direta e definem o seu comportamento? Como se dá, então, a evolução do espírito quando encarnado em corpo feminino se todas estas limitações são inerentes a este gênero? Essa é uma questão que deve ser revista para que, efetivamente, possamos quebrar o paradigma da era patriarcal. A subjugação do feminino é uma criação humana e social., oriunda talvez das diferenças físicas que cada organismo possui, da questão do corpo preparado para receber outro ser (maternidade) e, também, pelo orgulho e medo do ser masculino em se demonstrar fraco perante uma mulher mais forte do que ele. Os homens têm dificuldades em aceitar que a mulher pode ser mais forte e inteligente do que ele. Além, obviamente, das questões relacionadas ao poder, ao patrimônio, às riquezas, ou seja: “Nunca foi natural. Sempre foi política”, uma frase de Ana Claudia Laurindo que nos faz refletir sobre essa naturalização da subjugação e submissão das mulheres.

Alguns dados sobre as conquistas das mulheres, para aqueles que acham que estou exagerando em relação (quanto) aos prejuízos que reencarnar em corpo feminino podem ocasionar em relação à evolução do espírito:

- Direito à educação formal – somente no início do século XIX;

- Consideradas propriedade do homem (pai, marido), também até o século XIX;

-  Direito a voto no Brasil -1932 – mulheres solteiras, viúvas e com curso superior, (como se fosse comum para uma mulher ter um curso superior em 1932). E somente em 1946 foi estendido à todas as mulheres;

Direitos conquistados últimos 40 anos:

1988 – A Constituição passou a enxergar homens e mulheres como iguais. Antes eram consideradas cidadãs de segunda categoria.

2002 – Falta de virgindade deixa de ser motivo para anular casamento;

Direitos conquistados nos últimos 15 anos:

2006 – Lei Maria da Penha – antes a mulher não tinha como denunciar, não tinha como tipificar a violência. Só existia a Lei de Lesão Corporal.

2016 – Primeiro banheiro feminino no Senado. Antes as mulheres iam para fora do Senado utilizar o banheiro do restaurante.

2023 – O homem deixa de poder alegar Defesa da Honra ao matar sua mulher.

 

O Feminismo

Feminismo: pronto, lá vem mais uma Feminista nos dizer o que a mulher quer ou não quer para ela mesma. Sempre ouço: “mas quem disse que eu quero isso pra mim”, de algumas mulheres que não querem ser autônomas, que desejam permanecer conservadoras em relação a isso. No entanto, acredito que essas mulheres estão tão aculturadas pelo patriarcado, que não percebem que este é o lugar e o espaço que os homens querem para elas. Mas, de qualquer forma, o fato de a mulher escolher ou não se importar com o patriarcado, não invalida, ou não deveria invalidar, a luta e o desejo das outras mulheres que almejam outra situação. E não se trata de dizer que almejam algo melhor, porque aí desqualificaremos aquela que não deseja isso. Apenas uma busca por outra situação, uma na qual sua essência, suas habilidades, sua inteligência possam ser desenvolvidas livremente.

O Feminismo e a Mulher Espírita

Então, para as mulheres, espíritas inclusive, que julgam o movimento feminista como sendo algo ruim, algo ligado a ideologias específicas, eu tenho uma notícia para lhes dar: a luta das mulheres é muito antiga, muito anterior a qualquer uma dessas ideologias que estão sendo relacionadas ao movimento. A luta das mulheres não se resume a “tirar os sutiãs e queimá-los em praça pública”. Essa imagem pontual foi a que os “homens” quiseram que nós tomássemos conhecimento, desqualificando e enfraquecendo a luta das mulheres e colocando-as umas contra as outras. Os historiadores, homens, conseguiram o feito de “apagar” muitas das ações de mulheres em momentos decisivos e importantes para a humanidade.

Os espíritas, as mulheres espíritas, precisam, como primeiro passo, estudar, ler e conhecer as histórias das incontáveis mulheres que deram a vida para garantir alguns dos direitos que nós temos hoje. E quando dizemos “deram a vida”, não é porque trabalharam a vida toda apenas por seus ideais, é porque foram assassinadas mesmo.

Bem, o propósito hoje não é aprofundar a questão do patriarcado, até porque é também muito importante que as casas espíritas promovam debates sobre isso, sobre o machismo estrutural, o racismo estrutural e a violência cada vez mais exacerbada contra as mulheres. É importante que se fale e que se discuta sobre a violência doméstica na casa espírita. Ou vocês acham que só porque são homens espíritas, não existe este tipo de relacionamento violento? Por que não se fala nada sobre isso? Por que há este silêncio nas casas espíritas?

Ou ainda, a mulher vítima de violência, ela se sentiria acolhida ao buscar ajuda em um Centro Espírita? Ela seria ouvida? Ela seria ajudada, orientada?

A influência do feminino na sociedade é um fator equilibrante. Não se trata de querer derrubar ou tomar o poder dos homens, assumindo suas posições. Trata-se de ocupar espaços para somar, contribuir, compartilhar conhecimentos, vivências que possam alcançar soluções mais justas e igualitárias para toda a humanidade.

 

A Mulher Espírita

A condição, a posição e até o posicionamento da mulher espírita no Brasil e dentro das Casas Espíritas, repetem os padrões ditados pela sociedade patriarcal.

Ocupavam posições de segundo plano, sempre na execução do que os homens demandavam.

A mulher não tinha voz na sociedade? Também não tinha voz no Centro Espírita.

Esse cenário permanece até hoje.

As mulheres, no espiritismo em geral e na atualidade, permanecem ocupando estes lugares de segundo plano ou como médiuns. A mulher médium é mais respeitada não por ser mulher, mas porque provavelmente ela é interlocutora de espíritos que se apresentam como homens. Vocês já pararam para refletir que, excetuando Joana Di Angelis, os espíritos que se comunicam são de homens? Na obra codificadora, quantos espíritos são citados como mulheres? Qual foi o espírito que se apresentou como superior e como mulher? Isso não é no mínimo curioso?

 

MOVMMESP, CEAK e o necessário Protagonismo Feminino no Espiritismo

Como faço parte de um movimento mundial de mulheres espíritas progressistas, movimento este que teve início no meio da pandemia, em 2021 e que virtualmente reuniu mulheres espíritas do Brasil e outros países que ansiavam por serem ouvidas e por terem mais lugares de fala e de ação na sociedade e no espiritismo. Desde o início, conhecemos mulheres que se sentiam totalmente apagadas dentro das casas espíritas, boicotadas, desmerecidas, sendo sempre colocadas em segundo plano, sem participarem de decisões importantes.

Comecei a ouvir estes relatos e até estranhei um pouco porque minha realidade é um pouco diferente deste cenário. O protagonismo feminino já é uma realidade no CEAK de Santos há muitos anos. Eu tenho um trabalho, apresentado no V Encontro da CEPA Brasil, no ano passado, que eu fiz justamente por perceber que a história e o papel da mulher no nosso CEAK - Centro Espírita Allan Kardec, de Santos, pode ser considerado vanguarda em relação ao protagonismo feminino no espiritismo.

As mulheres do CEAK sempre foram muito atuantes. Sim, no princípio, as mulheres ocupavam o lugar de esposas dos ilustres homens que comandavam a casa. A elas eram destinadas tarefas assistenciais e evangelização espírita. Entretanto, aos poucos e com a visão correta de que há igualdade entre homens e mulheres, conforme preconiza a doutrina, elas começaram a ocupar os lugares diretamente ligados à Diretoria Executiva, Doutrinária também.

Desde a década de 90 do século passado, mulheres assumiram a presidência da Mocidade, do Conselho Deliberativo, da Diretoria Executiva, de Departamento de Estudos, coordenando cursos e proferindo palestras. Mulheres do CEAK participaram de Congressos apresentando trabalhos próprios. As mulheres do CEAK foram e continuam sendo ouvidas.

Mas, há algumas peculiaridades que surgem com esse protagonismo feminino, que se refere às características masculinas e femininas. E esse é um dos pontos que vou relacionar, ao final, como um dos paradigmas a ser quebrado. Um deles é que há uma fuga dos homens das casas espíritas, quando são dirigidas por mulheres. O Homem ainda não aprendeu a ficar em segundo plano e a ser comando por mulheres, cabendo-lhe então o papel de executor. O homem espírita também tem esse perfil.

As mulheres, no espiritismo em geral e na atualidade, permanecem ocupando estes lugares de segundo plano e o de médiuns. A mulher médium é mais respeitada não por ser mulher, mas porque provavelmente ela é interlocutora de espíritos que se apresentam como homens. Vocês já pararam para refletir que, excetuando Joana Di Angelis, os espíritos que se comunicam são de homens? Na obra codificadora, quantos espíritos são citados como mulheres? Qual foi o espírito que se apresentou como superior e como mulher? Isso não é no mínimo curioso?

Mas, no século de Kardec, se espíritos de mulheres encabeçassem o projeto, não teria repercussão nenhuma, e os postulados cairiam rapidamente em descrédito. Nem seriam considerados, na verdade.

 A CEPA e outros segmentos progressistas em relação ao protagonismo feminino

Nos últimos anos as mulheres têm sido mais valorizadas e alguns espaços estão se abrindo. Mas, ainda há traços culturais do patriarcado, uma vez que nós, mulheres, ainda sentimos esta valorização como uma “concessão” e não como conquista. Mas os homens da CEPA estão se empenhando nesta mudança cultural.

Os Coletivos Espíritas, mais recentes, já nasceram com esta visão de igualdade e, portanto, há muito espaço para as mulheres e elas estão ocupando e conquistando esses espaços.

 Perguntas elaboradas para reflexão:

“O Protagonismo feminino no movimento espírita atual é o que esperamos para o futuro?”

- Penso que estamos abrindo espaços. A própria organização deste Fórum, por Jacira e Mauro, já demonstra esta abertura quando foram convidados 3 homens e 3 mulheres como expositores. Recentemente, recebemos a divulgação de um Congresso Espírita em determinada cidade do Brasil, com o tema central sobre A MULHER e todos os expositores, debatedores e até organizadores do evento eram HOMENS. Ao serem questionados sobre isso por algumas mulheres espíritas mais atuantes, responderam que não é preciso ser mulher para falar sobre a mulher. Mas, como eles se acham conhecedores de toda a complexidade feminina para se autorizarem a falar por elas? Este é o maior exemplo e prova atual da preponderância masculina dentro do espiritismo. Então, o cenário atual ainda não é e está longe de ser o que esperamos para o futuro.

 - O papel e a atuação da mulher no movimento espírita brasileiro, para além da mediunidade, tem sido incentivado ou valorizado?

Muito lentamente, a passos de elefante ou de tartaruga. Não sei o que é mais lento. É preciso incentivar sempre as mulheres a se posicionarem, a se fazerem ouvidas, respeitadas em suas ideias.

 - A mulher tem potencial para assumir posições de liderança na casa espírita?

Com certeza. Não há mais como retroceder nesta questão das competências femininas. No mundo atual, elas estão assumindo cada vez mais os papeis de liderança. A mulher tem capacidade intelectual e emocional para tanto. Porém, podemos citar alguns entraves:

- As mulheres espíritas querem assumir ou ter algum protagonismo?

Nem todas, obviamente. Não podemos dizer que é uma aspiração da maioria. Mas isso não invalida a luta das mulheres que querem.

- Quais os entraves que as mulheres espíritas que desejam assumir ou ter algum protagonismo encontram?

1-          As mulheres se sentem incapazes (influência da cultura patriarcal).

2-          As pessoas em geral (homens e mulheres) não ouvem, não registram o timbre de voz feminino. Então, fica mais difícil fazer valer a sua opinião. A mulher não consegue imprimir credibilidade.

3-          Os homens não incentivam e as próprias mulheres criticam aquela mulher que almeja tal posição. 

- Quais paradigmas teremos que quebrar para dar o devido espaço e valor às mulheres espíritas?

Bem, vou citar apenas os que me ocorrem neste momento, mas com certeza haverá outros que as mulheres que me ouvem aqui hoje, as que fazem parte do MOVMMESP, do CEAK, da CEPA e CEPA Brasil, com certeza poderão elencar muitos outros.

1-          Romper com todo e qualquer discurso ou ação em que se considere apenas o universo masculino. Até no vocabulário é preciso ir, aos poucos, promovendo mudanças.

 2-          A mudança no Homem – que precisa romper com padrões de masculinidade – a mudança comportamental do homem é, a meu ver, o principal passo para romper com a sociedade patriarcal. Os homens vêm sofrendo muita pressão para que essas mudanças ocorram e sem essa mudança, vai ser difícil para a mulher galgar novos lugares porque a ela tudo é delegado. O homem não consegue ou não quer substituir a mulher em suas funções, para que ela possa alçar voos mais livres.

 Outra característica do homem é que ele é planejador, organizador, mas não é executor. Podemos identificar, ao longo da história e até hoje dentro das instituições espíritas, que os homens comandam, dão as ordens, mas quem executa são as mulheres. Os eventos organizados por homens só acontecem pelo trabalho das mulheres.

Outro ponto importante que deve ser considerado pelos homens, é que quando uma mulher assume a liderança, os homens se retiram. Eles não sabem ser comandados por mulheres, se sentem diminuídos em suas potencialidades. O homem não sabe assumir a função de executor. Então, ele se anula, se afasta. Assim é também nas questões familiares, onde os homens precisaram mudar para dividir os papeis dentro do lar. Só que isso ainda não é 100% realidade. Somente com o passar das experiências, é que o ser masculino vai compreender que esta divisão de papeis não é tão rígida assim. Que a maternidade não é só responsabilidade da mulher, que o homem tem um papel importante e que ele não veio ao mundo só para ser o provedor e cuidado pelas mulheres. É uma mudança lenta, porém imprescindível e inevitável.

Eu indico uma série que pode ser vista na NETFLIX, que se chama “Explicando”, especificamente temporada 1 – episódio: “Por que as mulheres ganham menos”. Este episódio mostra que as mulheres ganham menos em todo o mundo e não apenas pelo fator “maternidade”. É interessante porque coloca que o objetivo da mulher não é ter vantagens, mas apenas ganhar o mesmo que um homem ao desenvolver o mesmo trabalho. Aborda também que a maternidade é uma escolha das mulheres, que a mulher não deseja abandonar a maternidade, apenas que não seja discriminada por isso.

A sobrecarga das mulheres só diminuirá quando os homens conseguirem dizer: “eu vou à reunião escolar, não deixarei nas costas da minha esposa”; “acompanharei meu filho ao médico, vão vaciná-lo e eu quero estar lá.”

A desigualdade salarial não é um problema só da mulher, mas da família. As mulheres têm todo direito de serem mães sem ter a carreira prejudicada.

A discriminação vem diminuindo graças a inserção feminina no mercado de trabalho. Uma mudança de perspectiva sobre a criação dos filhos vai requerer mais uma mudança cultural. E de acordo com muitos estudiosos, essa mudança começa com os homens. Enquanto não pensarmos em homens e mulheres como igualmente cuidadores e provedores, isso não vai mudar. Porque enquanto isso for problema só da mulher, estaremos reforçando o estereótipo de que cuidar é coisa de mulher.

O documentário apresenta também os exemplos de Ruanda e da Islândia, que atingiram a quase total igualdade de salários entre homens e mulheres, porém, por motivos diferentes: Ruanda pelas consequências pós-genocídio em que foram dizimadas mais de 800 mil pessoas em 100 dias. E Islândia, com uma mulher assumindo o cargo de 1ª Ministra, alterando a legislação que dá aos homens a mesma licença que as mulheres têm ao ter filhos, entre outras leis que contribuem para esta paridade no país.

 

3-          A mudança na Mulher – que precisa romper com o patriarcado e encontrar seu lugar no mundo. À mulher cabe buscar conhecimento e o autoconhecimento para descobrir o que realmente deseja em sua vida e diferenciar seus pensamentos próprios dos pensamentos impostos pela sociedade patriarcal.

Mulheres: tudo o que nós pensamos sobre nós mesmas, não é fruto da nossa própria elaboração. São pensamentos que nos imputaram por tantas existências, que hoje nós achamos que temos pensamentos próprios. Quando começamos a questionar isso, aí sim, estamos elaborando o nosso próprio pensamento. Por isso, a importância de dar voz e lugar para as mulheres, para que em um futuro, espero não muito distante, possamos estar realmente pensando por contra própria, pavimentando nossa estrada evolutiva e contribuindo efetivamente com a evolução da humanidade.

 

4-          Romper com estereótipos que foram imputados às mulheres: “princesa”, “sensível”, “sentimental”, “frágil”, “lugar de mulher é ao lado do marido”, “lugar de mulher é no lar”, “a mulher precisa ser protegida e preservada por causa da sua função procriadora”. Estes lugares onde colocam as mulheres, como se estivessem em um pedestal, não tem nada de bonito nem romântico. É a pura expressão do poder dos homens sobre as mulheres. Eles nos colocam nesta posição para que não possamos interferir em nada.

A mulher não é frágil. A própria maternidade nos comprova isso. Nós somos fortes, competentes, damos conta de fazer muito mais coisas do que os homens, não temos tempo para choramingar. Se ficamos doentes, logo nos curamos porque outros dependem de nós.

 

5-          Romper com a Guerra dos Sexos – deixar de lado esta competição em que se pretende definir quem é o melhor, ou quem deve comandar. Não é uma disputa de poder. Não é esta a questão. Todos são importantes no cenário da vida. Cada um dá a sua contribuição. Só é preciso romper com os papeis cristalizados que foram dados a cada um dos gêneros. Ao homem cabe isso e à mulher aquilo. O homem é mais forte e deve ser o provedor e a mulher deve cuidar do interior. Isto está lá em Kardec, quando se afirma que, apesar do espírito não ter sexo e de que os direitos devem ser iguais, fica bem definido que há funções diferentes. Mas isso mudou ao longo do tempo e é preciso ser rediscutido. Os papeis hoje são intercambiáveis.

 

CONCLUINDO

Quando ouvimos que AS MULHERES VÃO DOMINAR O MUNDO, eu acho muito engraçado porque, na verdade, as mulheres nem querem isso. Mas, pode acontecer, se os homens não conseguirem quebrar os seus paradigmas e se anularem, como citei anteriormente.

É preciso haver uma rediscussão e redistribuição de papeis para que cada um possa assumir suas responsabilidades perante o mundo em que vivemos. Para que as leis sejam feitas pensando na justiça e na igualdade, sem que haja favoritismos entre este ou aquele gênero.

Hoje ainda nos deparamos com novas formas de expressões de gêneros, o homem e a mulher trans, famílias que se formam com laços homoafetivos, onde os papeis são mais bem definidos e mais justos do que nas famílias heteroafetivas. E a gente fica se restringindo a criticar, julgar tais comportamentos ao invés de analisar mais profundamente e tentar compreender os porquês destas relações e interações existirem à revelia do que todos nós achávamos ser impossível. Essa é uma discussão que precisa ser feita com mais profundidade e responsabilidade pelos espíritas do presente para garantir o espiritismo do futuro.

Você não quer ser feminista? Não acha que está sendo colocada de lado ou não está sendo ouvida? Não tem esse tipo de problema? Não quer assumir nada no espiritismo? Tudo bem. Suas escolhas precisam ser respeitadas.

Mas, é preciso respeitar e dar apoio àquelas que querem. Não devemos minimizar a luta de outras mulheres, até porque não sabemos os sofrimentos pelas quais passaram e que não fazem parte da nossa realidade. Há muitas situações desfavoráveis às mulheres. Existe também a questão mais desfavorável ainda em relação às mulheres negras, que nem é uma realidade nas casas espiritas.

As mulheres precisam desenvolver o sentido de Sororidade, que basicamente se resume a nos apoiarmos sempre umas nas outras incondicionalmente. A fêmea primitiva, precisava defender o seu provedor macho. Enquanto os machos se uniam para sair à caça, as fêmeas lutavam com outras fêmeas para manter o seu macho.

Mulheres, nós não somos mais primitivas. Precisamos romper com este paradigma e nos darmos as mãos. Não precisamos ter os mesmos objetivos, somos livres e isso deve ser respeitado porque já é uma conquista. Só precisamos respeitar e apoiar as conquistas femininas que hoje podem não ser importantes para você, mas poderá ser para suas filhas ou para você mesmo em uma próxima existência.

Quando afirmamos que as mulheres não são unidas, que lutam entre si, isso já é uma construção da cultura patriarcal, praticamente uma estratégia de guerra que visa enfraquecer o inimigo causando cisões, discórdias, desunião. Porque o inimigo unido é muito mais difícil de enfrentar e derrotar.

O Movmmesp este ano desenvolveu um estudo da obra de Dora Barrancos – “A História dos Feminismos na América Latina” que eu recomendo muito às mulheres que gostariam de começar a ler sobre o assunto.

Também recomendo a leitura da biografia de Anália Franco, uma mulher brasileira fantástica, que viveu no final do séc. XIX e início do Sec. XX. Uma mulher espírita verdadeiramente em sua essência, idealizadora, realizadora, empreendedora social, uma mulher à frente do seu tempo, exemplo para todas nós.

Para finalizar, gostaria de encerrar o Fórum com algumas mensagens que nos remetem a pensamentos positivos para que possamos nos proteger dessa turbulência que tem sido as nossas vidas. Tudo o que estamos vivendo, é reflexo ou consequência das nossas ações, das nossas escolhas. Nós fazemos parte de uma sociedade que se apresenta doente e precisamos assumir nossas responsabilidades sobre isso e tentar algo que possa ajudar a promover mudanças positivas. O espiritismo pode contribuir mais do que tem contribuído.

O espiritismo não é a salvação do mundo, mas pode ser uma grande contribuição ao formar pessoas que realmente podem fazer a diferença e que realmente podem tomar atitudes transformadoras.

Este Fórum trouxe várias propostas de quebras e mudanças de paradigmas em relação ao espiritismo e em relação à sociedade.

Precisamos nos fortalecer em energias que nos mobilizem para a ação. Não podemos esmorecer diante de cenários tão devastadores que estamos vivenciando. Não devemos desistir e sucumbir diante de ideias manipuladoras que só promovem guerras, injustiças, fome, miséria.

Precisamos nos preservar para manter a mente limpa e saudável, procurando não reter sentimentos ruins, a não lamentar demasiadamente por nossas mazelas do dia a dia, porque a vida é assim, não é perfeita.

A maior lição que eu aprendi esse ano foi de uma música da Kell Smith, que vou cantar pra vocês:” tá tudo bem se não tá tudo bem todo dia”. Não vai estar tudo bem todo dia e isso é normal. E é muito bom pensar assim, porque a gente deixa tudo mais leve e segue em frente. 

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*Administradora, Especialista em Gestão de Pessoas, Musicista, Espírita, Feminista, Humanista, Palestrante, Integrante do Movmmesp, CEAK de Santos, Delegada da CEPA – Associação Espírita Internacional e Integrante da CEPA Brasil.

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