28 abril 2014

9º FÓRUM ESPÍRITA DO LIVRE-PENSAR DA BAIXADA SANTISTA

Relato do Presidente da CEPABrasil,
Homero Ward da Rosa, participante do Fórum.

De 9 a 11 do corrente realizou-se em Santos (SP), o 9º Fórum Espírita do Livre-Pensar da Baixada Santista. O tema central, "Uma Reflexão sobre a Morte e o Morrer", revelou-se uma excelente escolha, oportunizando diversas abordagens e reflexões, sobre a importância da vida como oportunidade evolutiva para o espírito imortal. As palestras aconteceram em três painéis, reunindo cada um dois apresentadores em cada uma das três noites.

1ª Noite:
Ricardo Nunes,Homero, Paulo Muniz, Regina e Jailson
Público presente no CEB A. Prado
Na primeira noite, as palestras aconteceram na sede do Centro Espírita Beneficente Ângelo Prado. Sob a coordenação de seu presidente, Jailson Lima de Mendonça. O painel resumiu, respectivamente, a visão filosófica e a visão psicológica sobre a morte e o morrer. O primeiro painelista foi Ricardo de Morais Nunes, bacharel em direito e licenciado em filosofia.  Ricardo cita o “Livro Tibetano do Viver e do Morrer”, de autoria de Sogyal Rinpoché, onde se encontra a estória de Krisha Gotami, que, desesperada, busca alguém que lhe possa restituir a vida do filho morto que carrega nos braços. Ignorada por uns, considerada louca por outros, afinal encontra um homem sábio que a encaminha até Buda, a quem, afinal, implora pela ressurreição do filho. Depois de ouvir com serena compaixão a mãe desconsolada, Buda, suavemente, lhe pede que desça à cidade e lhe traga “um grão de mostarda vindo de uma casa onde jamais tenha havido morte...” A busca, infrutífera, desperta na mãe o entendimento de que nada no mundo é permanente, exceto a própria impermanência,   “a característica  flutuante e mortal de toda coisa”. Ricardo acrescenta lições de vários outros filósofos, desde Sócrates e Platão, para os quais a morte devia ser vista com naturalidade, pois o verdadeiro sábio almeja conhecer a sua essência e a morte do corpo liberta o espírito nessa direção. Para o filósofo contemporâneo, Luc Ferry, a morte é temida porque pertence à ordem do “nunca mais”. Contudo o pensador francês entende que enfrentamos muitas “mortes”, muitas despedidas. Com sabedoria, precisamos aprender a lidar com as múltiplas formas do irreversível.   
Em sequência, o psicólogo Paulo Guilherme Muniz, afirma que negamos a morte o tempo todo, embora o falecimento biológico seja um processo natural e inevitável.  A psicologia não aceita a vida após a morte. Contudo nos ensina que é preciso renascer em vários momentos durante a nossa existência. Alguns importantes teóricos da psicologia encontram evidências de que a mente continua a existir, sobrevivendo à morte biológica, o que abre possibilidade de encontro com as ideias espiritualistas de imortalidade da alma e evolução espiritual contínua.

2ª Noite:
Homero, Jailson e Roberto Rufo e Silva
Público presente na F. Espírita
No dia seguinte, o encontro ocorreu na sede da Fraternidade Espírita. O advogado e contador Jailson Lima de Mendonça, que coordenou a Comissão Organizadora do 9º Fórum, abordou questões jurídicas em torno do tema central, enquanto Roberto Luiz Rufo e Silva referiu-se a questões sociais relativas a morte e o morrer. Jailson destacou a perplexidade e revolta da sociedade diante do crescimento da violência. Estimativas internacionais apontam para 500 mil mortes por assassinatos no mundo, em 2012. Tal realidade reacende o debate em torno do controle da violência mediante o uso de medidas extremas, como a pena de morte. Mas será a pena capital eficaz?  Não para a doutrina espírita, que repudia a pena de morte.  Jailson lembra experiências positivas como a liderada pela juíza e espírita, Jacira Jacinto da Silva, relatada em seu livro “Criminalidade: Educar ou Punir?”. Tudo indica que a melhor solução para reduzir e controlar a violência se encontra na melhoria das condições sociais e na conscientização da educação para a paz.
A seguir, Roberto Rufo, atual Vice-Presidente do Instituto Cultural Kardecista de Santos, analisou aspectos sociais que envolvem a reflexão sobre a morte e o morrer em nossos dias. Rufo atribui o crescimento da violência à impunidade e à corrupção. Pessoas que atuam no crime sabem agir de modo a proteger os seus interesses. São quadrilhas muito bem organizadas e estruturadas, que manipulam muito dinheiro. O crime precisa ser reprimido com a inteligência policial. Investigar, ”seguindo o rastro do dinheiro” é um dos mais eficientes recursos para localizar os crimes e prender os chefes criminosos. Retirar os recursos financeiros que alimentam as ações criminosas é fundamental. Combater sistematicamente a corrupção e a lavagem de dinheiro.   Apoiou-se na obra “Direito e Justiça: Um Olhar Espírita”, de autoria do jurista e espírita Milton Rubens Medran Moreira, para sustentar que o Espiritismo é uma doutrina humanista que discorda da aplicação da pena de morte que se revela ineficaz para combater a criminalidade, e cita o autor: “A injustiça, legal ou social, é importante fator criminógeno. Onde há guarida legal e o efetivo respeito aos direitos fundamentais de todos, onde há justiça social, onde não há fome, nem corrupção, a violência não grassa.” 

3ª Noite:
Homero, Jailson, Leopoldo Daré, Regina Pedron
e Sandra C dos Reis
O último painel do 9º Fórum aconteceu na sede do CEAK – Centro Espírita Allan Kardec, http://ceaksantos.blogspot.com.br/ coordenado pela pedagoga e atual presidente da instituição, Regina Celli Pedron. Foi integrado pelos médicos Leopoldo (Leo) Rodrigues Daré e Sandra Chioro dos Reis, que abordaram questões éticas e médicas ligadas à morte e o morrer.  Sobre o momento da partida da alma do corpo, Leo expôs o entendimento das culturas egípcia, helênica e judaico-cristã.  Diferenciou aspectos técnicos e éticos da eutanásia, morte assistida ou suicídio assistido, distanásia,  ortotanásia. Referiu-se aos avanços da ciência e tecnologia médicas que atualmente dispõem de muitos recursos, como os transplantes de órgãos, terapias gênicas, os fármacos, etc., que ampliaram a expectativa de vida. Destacou que a morte biológica é um processo natural que tem início desde o nascimento, ou antes. A desencarnação natural, segundo o Espiritismo, deve-se a perda de vitalidade do corpo, é indolor, e permite que o espírito desprenda-se gradualmente, o que ocorre em minutos ou meses; o corpo pode viver sem alma e, conforme a questão 356 de O Livro dos Espíritos,  pode haver um nascimento biológico sem que um Espírito esteja ligado ao corpo.  O Espírito perde a consciência de homem com a morte do cérebro. A perturbação espírita da morte pode demorar poucas horas ou muitos anos.
Público presente no CEAK
A seguir Sandra Lia Chioro dos Reis, psiquiatra, abordou a inquietação psíquica que o medo da morte desperta em muitas pessoas. É um aspecto da nossa cultura de negação da morte. É necessária uma conscientização de que morrer é um processo natural, que ocorre para todas as pessoas. Mais importante do que a angústia do morrer deve ser o esforço e a alegria de viver, e viver bem, aproveitar todas as oportunidades para ser feliz e estimular a outros essa disposição pela vida, até mesmo pela consciência da morte inevitável. Citou o filósofo Sócrates afirmando devemos cuidar mais da alma e não temer a morte do corpo. A filosofia no passado já foi considerada um aprendizado para a morte. O termo grego euthanasía significava “morte sem sofrimento”, a boa morte. Aquele que sabe morrer aprendeu a viver, e assim a vida e a morte se iluminam reciprocamente.  
Todos os expositores despertaram vivo interesse do público nos três encontros. Houve muitos questionamentos e debates esclarecedores sobre os assuntos tratados.
   
Visita ao Lar Veneranda Creche:
https://www.facebook.com/creche.larveneranda

Homero ladeado por Mauricy e Haira Ribeiro, administradora
executiva do Lar
Fundada por Jaci Régis em 1954, a Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda, é mantenedora do Lar Veneranda Creche. Abriga hoje 135 crianças de até 7 anos de idade. Atende ainda cerca de 80 mães, que frequentam curso de alfabetização de adultos, e diversos outros cursos profissionalizantes que objetivam propiciar-lhes melhoria de renda e condições de vida. Jaci presidiu a instituição durante 32 anos. A atual presidente é sua filha, pedagoga Valéria Régis e Silva, sendo Vice-Presidente o dinâmico companheiro Mauricy Antonio da Silva, que nos convidou e acompanhou durante a visitação, juntamente com Haira Ribeiro e a equipe de colaboradoras Lar, todas muito simpáticas e afetuosas. A Creche está instalada em prédio próprio composto do térreo e mais três andares, com uma área construída de 1377 m².

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